Resenha Crítica: Doutor Sono

Nem todos sabem, mas o filme Iluminado, adaptação de 1980, não agradou tanto ao seu criador, tendo em vista algumas mudanças em comparação com o livro; King acredita que Kubrick alterou a mensagem que ele tentou passar na história.

Doctor Sleep (Doutor Sono em português), surgiu como um pedido de desculpas à Stephen King e a todos os fãs.

Baseado no livro de mesmo nome (publicado em 2013), “Doutor Sono” é em quase todos os aspectos a continuação ‘oficial’ de “O Iluminado”. Seguindo a vida de Danny – aquele mesmo garotinho de cinco anos da história original – o filme dá um salto no tempo, explorando os efeitos da traumática experiência que o tenebroso Hotel Overlook teve em sua vida. O garoto se tornou um adulto traumatizado e viciado em bebidas (igual ao seu falecido pai). Em busca de se redimir consigo mesmo, Dan se muda para uma cidadezinha no norte do país e arranja um trabalho como enfermeiro em um hospital para pacientes terminais, onde passa a usar os seus poderes para ajudá-los. Após anos de superação e sobriedade, o protagonista acaba conhecendo uma garota, Abra, que também tem poderes psíquicos, e juntos os dois terão que enfrentar um grupo de vampiros que se alimenta de crianças com o dom da ‘iluminação’.

Com duas horas e meia de duração, “Doutor Sono” prende a atenção de quem assiste e traz um misto de sensações, desde agonia e nervosismo, até pura empolgação, já que em nenhum momento a história se torna arrastado ou enfadonho, pois ela é redonda e se encaixa em todas as partes. O filme foge da proposta do primeiro filme e segue a sua própria história, mas se aprofunda de forma significante quanto aos poderes sobrenaturais de Dan e de Abra. O melhor mesmo é guardado para as cenas finais, onde, de fato, aparece algo do Iluminado.

Mike Flanagan foi uma escolha assertiva para a direção e roteiro, já que o seu histórico com filmes de terror não é pequeno (Ouija – A Origem do Mal, A Maldição da Residência Hill, O Sono da Morte, entre outros). Flanagan não teve piedade nos momentos de maior agonia, fazendo jus a um filme de terror psicológico. Ao mesmo tempo, a fotografia e a trilha sonora agregam muito ao cenário como um todo, se casando de tal forma qual que apenas realça a tensão para o espectador. A câmera interage com o personagem em determinadas cenas e o uso da música traduz muito bem o sentimento a ser passado.

Com um roteiro complexo assim, existe a necessidade de um elenco que seja nada menos do que capaz de carregar tal nome sob suas costas e o escalamento de Flanagan não deixou a desejar. Kyliegh Curran (Abra Stone) faz uma estreia grandiosa; ela tem poderes espetaculares e grande parte da atenção no filme consequentemente recai sobre ela. Embora Ewan McGregor (Dan Torrance) tenha sido um pouco ofuscado pela personagem da Kyliegh, era de se esperar que sua interpretação ficasse exemplar. Enquanto isso, Rebeccca Fergunson convenceu bastante como vilã, mesmo que vivendo uma personagem que talvez necessitasse de um pouco mais de aprofundamento.

Em suma, Flanagan traz uma adaptação que, embora para muitos não seja comparável com a obra de Kubrick, utiliza elementos de O Iluminado para homenageá-lo enquanto tenta agradar tanto a Stephen King e aos seus fãs com base em características do livro, entregando um final que muitos ansiavam e um filme que assustadoramente prende a atenção do começo ao fim.