Os questionamentos por trás dos quatro titãs negros em ‘Uma Noite Em Miami’

“Foi como descobrir os quatro vingadores negros” disse Kemp Powers, o roteirista do filme

Nas buscas de filmes mais cotados ao Oscar 2021, “Uma Noite em Miami” é consenso entre quase todas as listas, e deveria. O longa, baseado em fatos reais, une quatro lendas contemporâneos do movimento negro: o ativista Malcolm X, o boxeador Muhhamed Ali, o jogador de futebol americado Jim Brown e o cantor e compositor Sam Cooke. 

O longa-metragem começa com um episódio da vida dos principais personagens, cada cena cheia de significados. Mas o filme atinge o ápice da sua narração dramática quando os quatro homens negros se unem em uma noite épica em um hotel de Miami, em 25 de fevereiro de 1964, para discutir seus propósitos e o momento histórico que estavam vivendo: a revolução cultural de 1960.

O filme é mais uma produção da Amazon Studios, foi estreado em janeiro de 2021 na plataforma online Prime Video e é tão intrigante quanto o anúncio dessas quatro figuras juntas. Uma obra complexa, profunda e altamente contagiante, com diálogos intensos que também se tornam confrontos sobre o papel de cada um no movimento negro. Questionamentos que envolvem extrema reflexão sobre suas raízes e objetivos ecoam: “Where do you belong?” (“Onde você pertence?”).

O drama é o primeiro filme dirigido por Regina King, atriz e diretora norte-americana, ganhadora de diversos prêmios, como Oscar por Melhor Atriz Coadjuvante, no filme “Se a Rua Beale Falasse”. O roteiro é de  Kemp Powers, co-diretor, roteirista e dramaturgo de cinema americano. A obra foi uma adaptação da peça teatral de grande sucesso nos Estados Unidos, em 2013, criada pelo próprio roteirista.

Algumas dúvidas surgiram a partir do filme: o encontro naquela noite realmente aconteceu? Os quatro gigantes do movimento negro eram tão próximos? Sim, os quatro homens eram de fato amigos e a épica noite em 1964 após a grande conquista do Clay aconteceu, porém a narrativa é fictícia, os diálogos e o que aconteceu naquela noite são imaginários (baseado em pesquisa) de Powers. Para o curioso voraz, a reportagem da Smithsonian Magazine (em inglês) aprofunda a veracidade da “Noite em Miami” com detalhes, entrevistas, datas e informações. 

(Foto por Bob Gomel / The LIFE Images Collection via Getty Images)

(Foto por Patti Perret)

De qualquer forma, o filme retrata alguns acontecimentos verdadeiros e históricos, como por exemplo na vida de Cassius Clay que, na manhã seguinte do encontro, ele anuncia que irá se converter à Nação do Islã e logo após troca seu nome por Muhammad Ali.

Apesar do drama (ou por causa do drama), o filme mostra a importância da representatividade, a importância de debates dentro do mesmo movimento, mas mais que isso: a importância da liberdade de verdade, que é ser o que você quiser ser. 

A cena em que o personagem de Malcolm X, em um desesperado grito “We’re fighting for our lives!” (“Estamos lutando pelas nossas vidas!”), realmente ressalta que, apesar das divergências e escolhas de cada um na forma de viver e encaixar suas lutas nas suas profissões e rotinas, no fim, todos estão pelo mesmo propósito. Além disso, o filme abre portas para o imaginário dos fãs: quem são as lendas na sua intimidade, na sua vulnerabilidade e incerteza? Afinal, até os quatro vingadores negros possuem suas fraquezas.