Como o TikTok está mudando o jeito de se consumir música

Lançado em 2016 pela empresa chinesa ByteDance, o TikTok é uma rede social para postar vídeos curtos sobre qualquer assunto, desde danças, músicas, memes, trocadilhos, receitas, até desafios, histórias e experiências pessoais. Desde então, vem crescendo muito. Em janeiro de 2020, foi o aplicativo mais baixado mundialmente, superando WhatsApp, Facebook e Instagram. Em dezembro, o Sensor Tower divulgou que o app superou outra marca: foi baixado 2,6 bilhões de vezes no mundo inteiro. 

Constituídos de 15 ou 60 segundos, os vídeos serviram de entretenimento para milhões de pessoas na pandemia, em que todos passaram a permanecer mais tempo na internet. Nesse meio tempo, muitas celebridades aderiram ao aplicativo e quem era anônimo ganhou status de fama. 

Com o potencial imenso de viralizar, um fator que não pode passar despercebido é a gigantesca influência do TikTok na indústria musical. As músicas que repercutem dentro do app são apresentadas das mais diversas formas: como pano de fundo para uma história; acompanhadas de uma “trend”, um tipo específico de vídeo que cada usuário faz com a sua versão; ou apenas um vídeo aleatório com a música de fundo. 

Esse último caso foi provado ano passado por um usuário chamado de “Doggface”. Ele viralizou ao se gravar andando de skate e bebendo uma garrafa de suco enquanto tocava a música “Dreams” do Fleetwood Mac. Em 1977, quando foi lançada, a produção alcançou a 1ª posição no Billboard Hot 100. 43 anos depois, um vídeo um tanto quanto despretensioso colocou a música de volta ao ranking, na 12ª posição.

As músicas que viralizam podem ser recentes ou antigas, originais ou remix, ou até mesmo uma versão completamente diferente, como é o caso dos “covers”. Um dos exemplos disso, é “Put Your Records On” (2006), da Corinne Bailey Rae, que repercutiu muito no aplicativo com o cover de Ritt Momney. Muitos usuários desconheciam que a música originalmente é de Corinne, e isso diz muito sobre o efeito do aplicativo. 

Um relatório feito pela empresa sobre o ano de 2020 na música mostrou que mais de 176 músicas foram usadas em vídeos, os quais ultrapassaram 1 bilhão de visualizações. Como o relatório bem aponta e o caso de Doggface comprova, as músicas que viralizaram não precisavam ser recentes porque independentemente disso, a “comunidade do TikTok consegue transformá-las em hits virais”. As 10 músicas mais rápidas a alcançar 1 bilhão de visualizações foram: 

  1. “Toosie Slide ” – Drake 
  2. “WAP” (feat. Megan Thee Stallion) – Cardi B
  3. “Therefore I Am” – Billie Eilish
  4. “Lets Link” – WhoHeem
  5. “Say I Yi Yi” – Ying Yang Twins
  6. “Where Is The Love?” – The Black Eyed Peas
  7. “Whole Lotta Choppas” – Sada Baby
  8. “Adderall (Corvette Corvette)” – Popp Hunna
  9. “Mood Swings” – Pop Smoke
  10. “THICK” – DJ Chose & Beatking

A música de Drake gerou bilhões de visualizações em apenas três dias, e a de Cardi B e Megan Thee Stallion, em apenas duas semanas

Na retrospectiva “Top 100”, as 10 músicas mais significantes acumularam mais de 50 bilhões de visualizações em mais de 125 milhões de criações, cinco dessas alcançaram o primeiro lugar na Billboard Hot 100. São elas:

  1. “Savage Love” – Jawsh 685 & Jason Derulo
  2. “Savage” Remix – Megan Thee Stallion
  3. “OUT WEST” (feat. Young Thug) – Travis Scott 
  4. “WAP” (feat. Megan Thee Stallion) – Cardi B 
  5. “Say So” – Doja Cat 
  6. “Tap In” – Saweetie
  7. “The Box” – Roddy Ricch
  8. “Rags2Riches” (feat. ATR Son Son) – Rod Wave 
  9. “Supalonely” (feat. Gus Dapperton) – BENEE 
  10. “What You Know Bout Love” – Pop Smoke

Muitos desses já eram artistas conhecidos, outros iniciaram sua carreira graças ao TikTok. De acordo com o relatório, mais de 70 artistas assinaram com gravadoras grandes a partir das viralizações.

Esse impacto do aplicativo na indústria musical vem para o bem e para o mal. O fato de trechos de 15 segundos de música viralizarem traz a possibilidade de uma desvalorização pelo restante da obra, ou até mesmo do artista. Alguns são sortudos o suficiente para alcançarem as paradas na Billboard e nas plataformas de streaming, outros só têm sua produção conhecida no boca a boca, ou melhor, de “trend” em “trend”, e fica por isso mesmo. O site The Ringer aponta o que acontece com muitos artistas: por exemplo, o cantor Sada Baby não ficou mais conhecido por causa da viralização de sua música “Whole Lotta Choppas”, quem ficou mais conhecido foram os famosos e influenciadores que fazem as dancinhas com ela.

Outro impacto do aplicativo está sendo e será na hora da composição, gravação e produção. Os primeiros singles de novos artistas vão tentar acertar a fórmula “perfeita” para se tornarem virais: melodias ainda mais chicletes e dancinhas prontas, o que afetará drasticamente o seu desenvolvimento musical. Para o NPR, o crítico de música pop do LA Times, Mikael Wood, comenta que esse potencial do TikTok está criando uma geração de “one-hit wonders”, ou seja, de artistas com apenas um hit: “Você tem pessoas que fizeram uma música muito legal, e as pessoas se identificaram com ela, então eles são contratados em uma gravadora. Você está meio que colocando-os no estrelato pop de uma grande gravadora, mas eles não desenvolveram o tipo de fãs que realmente os acompanharão quando sua próxima música não for um sucesso viral.” 

O TikTok está tendo um efeito brutal nas produções, nos artistas e nas gravadoras, mudando o jeito de consumir e produzir música. Vai existir um desespero para compor a melhor música, aquela que será mais provável de ficar conhecida. E isso pode ser devastador para quem está no começo da carreira, ou até para quem já está consagrado e quer continuar se adaptando.

Para quem é fã, mero ouvinte ou famosinho no aplicativo, vai ser só sucesso, quanto mais música, melhor.