O filme que a Disney não quer que ninguém assista! “A Canção do Sul”

    Em seus 93 anos de história, a Disney produziu vários filmes icônicos, assim criando o seu legado. Apesar de sua carreira renomada, existe um filme que a empresa quer que ninguém veja, ao ponto de ser o único longa-metragem da Disney que nunca foi lançado em VHS, DVD e BluRay. O filme é A Canção do Sul de 1946.

      A Canção do Sul foi baseado e adaptado de uma série de contos escritos por Joel Chandler Harris no final do século XIX. Neles, Harris recontava histórias do folclore afro-americano que ouvia quando era mais jovem. Para narrar esses contos, foi criado o personagem Tio Remus.  

Joel Chandler Harris
Os contos do Tio Remus

   Apaixonado por essas histórias,  Walt Disney fez questão de trazer um dos contos de Harris para os cinemas, assim A Canção do Sul se tornou o primeiro longametragem a juntar animação, que eram utilizadas nas histórias do Tio Remus, com atores de verdade. O filme fez um sucesso moderado na época e chegou a ganhar o Oscar de Melhor Canção Original pela faixa Zip-A-Dee-Doo-Dah.    

Por vários anos, a Disney continuou relançando o longa-metragem em datas comemorativas, sendo a última em 1986 comemorando os 40 anos da estreia do filme. Portanto, depois de 86, a empresa nunca mais citou ou relançou o filme, como consequência, ele acabou caindo no esquecimento. O motivo de toda essa negligência é porque, desde seu lançamento, A Canção do Sul é acusado de ser um filme extremamente racista, e essas acusações só foram crescendo com o passar de seus relançamentos. 

                     Hoje em dia, as pessoas que conhecem ou se lembram do filme só se recordam dos personagens animados, pois os trechos animados do longa foram recontados em livros, discos, curtas-metragens e até viraram atração nos parques da Disney. A empresa começou a se focar mais nos animais fofinhos e menos na representatividade que os negros possuiam no filme.

Um dos lançamentos da animação

           O que ofende muitos afro-americanos e o motivo desse longa ser problemático é a representatividade que os negros possuem nele. Um dos exemplos mais notáveis é na forma de falar dos personagens, com palavras exageradamente distorcidas e com concordâncias  que fogem da norma padrão do inglês. Assim, consolidando o estereótipo de que os negros eram selvagens e “incultos”.

        Além disso, outro fator é a construção dos personagens negros, pois, na narrativa, eles só existem no filme para avançar a narrativa dos personagens brancos. Os negros só estão lá para ajudar, servir e para melhorar o dia dos brancos, além de que, no enredo, os personagens negros de destaque não possuem uma história própria que não gire em torno dos brancos.

                Apesar das polêmicas, A Canção do Sul teve sua relevância, já que o ator que deu vida ao Tio Remus (James Baskett) entrou para a história como não só o primeiro ator negro a estrear um filme da Disney, mas como o primeiro negro a ganhar um Oscar honorário.

James Baskett na cerimonia do Oscar

          E a junção de atores reais com animações usadas nesse filme abriu portas para clássicos como Mary Poppins de 1964. Assim, trazendo inovações muito importantes para o cinema até os dias de hoje.