Resenha – “Por que você me matou?” te levará de volta aos anos 2000 com reviravoltas inacreditáveis

A história surreal da luta de uma mãe por justiça (Foto: Reprodução/Netflix)
A história surreal da luta de uma mãe por justiça (Foto: Reprodução/Netflix)

Uma tela de computador antigo com Windows XP. A página do MySpace aberta, com um diálogo normal e flertes entre duas pessoas. A moça, denominada “Angel”, tem uma bela foto de perfil. Ela pergunta para o correspondente se ele a ama. Ele diz que sim. Então, a pergunta: por que você me matou? 

Esse é o início do documentário que estreou recentemente na Netflix. Seguindo os sucessos de programas voltados à dissecação de crimes reais, o serviço de streaming apostou em mais uma história dramática, com reviravoltas dignas do cineasta Christopher Nolan. 

Desta vez, a trama fala sobre o assassinato de Crystal Theobald, em 2006, na cidade de Riverside, Califórnia. Certa noite, a jovem saiu de carro com seu irmão e namorado e, ao chegar na esquina de sua casa, foi alvejada por uma gangue da região, a 5051.

A partir daí, as coisas se intensificam. Sua mãe, Belinda Theobald, junto com uma prima de 14 anos, resolvem criar um perfil falso na rede social MySpace, para tentarem extrair informações dos membros da gangue em conversas online. A questão é que Belinda decidiu usar a foto da filha morta no perfil. E, surpreendentemente, não foi reconhecida por nenhum dos seus assassinos. 

Essa foi a foto de Crystal Theobald usada no perfil falso "Angel" (Foto: Reprodução/Netflix)
Essa foi a foto de Crystal Theobald usada no perfil falso “Angel” (Foto: Reprodução/Netflix)

O diretor Frederick Munk utiliza alguns artifícios para suprir a falta de material visual: a tela do computador e as mensagens são replicadas algumas vezes ao longo do filme, dando uma sensação de nostalgia pelos antigos layouts da web e também demonstrando o pioneirismo de Belinda ao adentrar nesse mundo online sem qualquer contato prévio, e ainda sendo bem sucedida na sua busca. 

Uma maquete do local, dos carros e dos presentes na cena do crime foi também utilizada, ajudando o telespectador a visualizar os acontecimentos fatídicos daquela noite. Por ter muitos personagens, a história fica confusa em vários momentos, já que os membros das gangues possuem apelidos e o nome online também é diferente. 

Um ponto interessante do documentário é que este crime não aconteceu em uma família rica ou poderosa, como é de costume nesse tipo de produção. Inclusive, a família da vítima possuía vários membros que já foram presos e tiveram envolvimento com drogas e outros delitos. Essa é uma das razões que fez com que Belinda decidisse investigar por conta própria, sem informar a polícia. 

Belinda Theobald criou quatro filhos sozinha (Foto: Reprodução/Netflix)
Belinda Theobald criou quatro filhos sozinha (Foto: Reprodução/Netflix)

A cidade em que o homicídio aconteceu era marcada por brigas de gangues e falta de oportunidade para seus habitantes, que, mesmo morando na Califórnia e perto da costa, muitos nunca tinham sequer conhecido o mar. Riverside era, como descrito no filme, o local onde as pessoas mais pobres iam morar e viviam à margem da sociedade, abandonadas pelo poder público. 

A desigualdade social, o esquema de gangues, a ausência da força policial, o tráfico de drogas como uma das poucas oportunidades de trabalho e o recrutamento de crianças por parte das facções dão o contexto para o longa, que demonstra ter um emaranhado de fatores que culminaram na morte de Crystal Theobald, atingida por três tiros naquela noite de 24 de fevereiro de 2006.

Belinda Theobald, mãe solteira, viciada em metanfetamina e traficante de drogas na época, atingiu o fundo do poço com a morte de Crystal. Entretanto, a sua história nos mostra que definitivamente a vida não é em preto e branco e que os nossos erros não nos resumem. 

Por que você me matou?” já está disponível para assistir na Netflix.