Ouvimos: “Sala Dois” novo álbum do Zimbra

Consolidada no cenário independente e underground, com grandes shows como a apresentação no auditório do Ibirapuera em 2019, o Zimbra está sempre em completa evolução, em 2022 lançou seu mais recente trabalho, Sala Dois, o quarto álbum da banda. 

O Zimbra é uma das melhores bandas do rock nacional dos últimos dez a quinze anos. Dono de sucessos incríveis e que conquistaram uma legião de fãs, a banda seguiu em frente com seus lançamentos e o sucesso fez o grupo assinar com o produtor Rick Bonadio, sucesso nos anos 90, lançando grandes músicos, mas que não emplacou com suas apostas recentes. 

Clipe de "último dia (me lembra)", 6ª faixa do álbum Sala Dois

Sala Dois

Lançado em 2022, possui dez músicas, com nove sendo inéditas e um acústico do maior sucesso da banda, a música “Viva”. Sala Dois chega pela gravadora Midas Music, tendo 29min e 21seg de duração. As faixas são: Lá – Mundo Ao Contrário – As Coisas São Como São – Vida Num Segundo – Acaso – Último Dia (Me Lmebra) – Recomeçar – Quem Era Eu e Viva (Acústico).

“Abismo” é a melhor música do disco, uma ótima escolha para abrir o trabalho. Intensa e com um rock mais parecido com os últimos sucessos, mas a canção tem um instrumental um pouco acima do vocalista Bola. E ainda sim continua sendo a melhor faixa. Demonstrando uma qualidade impecável, melodia e sonoridade que faz você cantar junto.

O álbum tem músicas que poderiam estar em uma novela das 19h facilmente ou até em uma edição de malhação. E isso pode ser visto como uma via de mão dupla, bom e ruim, a música sendo de massa e conquistando público e também como músicas que cansam facilmente. Letras melódicas e repetitivas. Desta vez não há a poesia, grandes reflexões e músicas que trazem a tranquilidade que todos os outros trabalhos apresentaram. 

A faixa “Lá” é muito boa e também traz um apego com outros trabalhos. E claro, um ciclo pode terminar e outro começar, mas a banda parece muito fora da curva dos geniais trabalhos que apresentou nos últimos trabalhos.

Um disco novo, do começo ao fim, se caso um ouvinte parar para escutar este trabalho, sem conhecer a banda, vai achar que a banda é da cena pop e saiu de algum reality show. Caso ela ouça os álbuns: O tudo, o nada e o Mundo (2013), Azul (2016) com produção de Lampadinha ou mesmo Verniz (2019) com supervisão e produção de Esteban Tavares. A pessoa ouvinte vai se assustar e dizer que trocou todos os integrantes. 

Melhores Músicas:

Além da trilha inicial “Abismo”, Acaso é um grande destaque. A música “Último Dia (Me Lembra)” pode ser confundida com um sertanejo universitário romântico. Não remete às músicas “calmas” que o Zimbra já fez um dia. 

Todas as bandas passam por evoluções e mudanças, mas é drástica e não estão positivas, a troca de estilo para este trabalho. Aguardemos um novo disco do Zimbra, com parcerias, nomes do Indie e do rock alternativo nacional, a volta dos trompetes e trombones que abrilhantaram por tantos anos os discos da banda. Hoje, o Zimbra é uma das mais promissoras bandas do Brasil, claro que tudo que ela já fez e produziu no cenário da música, a torna importante, mas com o último trabalho, é ideal ligar o alerta. 

A falta da essência dos instrumentos de sopro é surreal no disco!

 

A memória que está viva quando ouvir o nome do Zimbra, está mais aquecida do que nunca, as músicas marcantes estão eternizadas e o sucesso na porta, basta não deixar contaminar o que estava dando certo. Zimbra é: Bola (Rafael Costa) nos vocais e violão, Vitor Fernandes na guitarra e apoio vocal, Guilherme Goes no baixo e Pedro Furtado na bateria.

O “Midas” Rick Bonadio e a influência sobre o álbum. 

Sobre: Rick Bonadio nasceu em São Paulo em 1969, foi músico mas conseguiu destaque pelos bastidores da produção musical. Foi empresário e “desobridor” da banda Mamonas Assassinas, o apelido “Creuzebeck” que a banda tanto falava, era em menção a Bonadio. Trabalhou com o Charlie Brown Jr e lançou o Rebeldes, novela em alusão ao sucesso mexicano. Foi jurado de reality shows musicais, onde demonstrava antipatia na maioria das apresentações. Hoje é dono da gravadora Midas Music, seu último trabalho de “sucesso”, foi lançar Manu Gavassi.

O produtor não é bem visto por bandas do cenário independente, muitas vezes colocado como “crítico demais e arrogante com as pessoas” ou “só ele tem direito de falar o que é bom ou não”. Rick vive de um passado de muito, mas muito sucesso, respeito e grandes nomes emplacados, mas não acompanhou a música e o rock.

São claras as influências do produtor e sua gravadora sobre “Sala Dois”. Às vezes a impressão é que a vontade de tornar o Zimbra uma “Boy Band” é um desejo secreto. Em alguns trechos das músicas, quando a sonoridade recebe uma troca de ritmo, é como se o sambô pegasse mais uma vez uma música boa e realizasse uma releitura. A esperança é que o Zimbra assine com uma gravadora como Balaclava ou Deck e tenha um próximo álbum sem dedos alheios. A qualidade dos integrantes musicalmente no trabalho, é indiscutível, boa!

Nota: Sala Dois: 6.5

 

Zimbra no Showlivre em 2015, apresentando seu maior sucesso, a música "Viva".

Álbum na íntegra:

A mensagem fica:

Sobre Klaus Simões 440 artigos
Jornalista pela FIAM, Técnico em Comunicação Visual pela Etec de São Paulo, especialista em coberturas de eventos, esportivas e musicais, geek e alternativo. Responsável pelo NEXP Podcast.