O que está no caminho entre uma mulher promissora e um futuro vingativo?

Medidas mais restritivas do que nunca e a pior fase da pandemia no Brasil. O que nos resta? Maratonar os filmes indicados ao Oscar 2021, e eu garanto, Bela Vingança vale por todos os filmes “parados”, vamos assim dizer. 

O longa que soma diversas indicações e prêmios em grandes premiações americanas é tão complexo quanto intrigante, e merece todas elas. Dirigido e escrito pela inglesa, Emerald Fennell, o longa teve sua estreia mundial no Festival Sundance de Cinema em janeiro de 2020, e nos cinemas americanos apenas no fim do ano passado. Já no Brasil, a estreia está prevista para o mês que vem.

Categorizado como suspense, drama e comédia, as quase duas horas de filme realmente passam por esses três gêneros, num perfeito “seria cômico se não fosse trágico”, e às vezes, realmente é cômico. Um humor ácido como alerta reflete o comportamento abusivo de homens e a tendência da sociedade de defendê-los, não importa quão errado eles estejam.

Estrelado por Carey Mulligan, o filme conta a história da personagem Cassie que após o trauma de uma grande amiga ter mudado os rumos da sua vida, ela dedica suas noites a se vingar de homens abusadores de mulheres vulneráveis. Assim, bloqueada de sonhos e envolvimentos amorosos, ela aterroriza homens predadores que cruzam o seu caminho. Mas o thriller é mais complexo e emocionante que isso: mistérios e dúvidas, intercalados de cenas hilárias, são revelados ao longo do filme, com um plot twist chocante no final.

Além disso, o filme tem como temática principal a cultura de estupro enrustida na sociedade. A primeira cena revela isso, em que ela, bêbada numa boate, atrai olhares de homens que dizem “Mulheres assim se colocam em perigo” e “Com essa idade já deveriam saber, certo?”. Com isso o, já cansativo, debate reaparece: quando será que mulheres poderão se portar, se vestir e se comportar da maneira que quiserem e de nenhuma forma isso será considerado como um convite ao assédio? 

Com a licença do spoiler: uma sátira incrível com uma lição a ser lembrada quando ao enfrentar a reitora da universidade em que sua melhor amiga foi abusada, o discurso da reitora muda completamente quando ela acha que é a filha dela sendo abusada por homens universitários. Que sacada! 

O longa soma indicações no Oscar, foi indicado para 5 premiações na cerimônia que acontece no dia 25 do próximo mês, sendo elas: melhor filme, melhor atriz, melhor direção, melhor roteiro original e melhor edição.

Emerald Fennell, junto com Chloé Zhao, marcam em 2021 a primeira vez em que duas mulheres foram indicadas a melhor direção, simultaneamente, na história do Oscar. No twitter a diretora demonstrou sua felicidade ao descobrir ser nomeada pela grande premiação: 

Olhando mais atentamente para a história das premiações, no Globo de Ouro deste ano, foi a primeira vez na cerimônia em que três mulheres foram indicadas a melhor direção. Já no Oscar, em 93 anos de premiação, apenas cinco mulheres foram indicadas e apenas uma venceu, segundo reportagem do próprio NEXP

Bela Vingança é uma obra incendiária, como diz uma crítica do filme, que reflete uma cumplicidade incondicional e a luta por justiça, em que a personagem brinca entre boa moça e femme fatale. Com uma trilha sonora que completa o filme, por exemplo com uma versão instrumental da  música Toxic, da Britney Spears, em uma cena tensa. Tudo a se descobrir, vale a pena assistir!

Finalizo dizendo que o conteúdo pode ser forte e gatilho para pessoas sensíveis ou que se identificarem com o tema.