Angústia Nerd: O que é um bom mangá?

Responder a esta pergunta é tão difícil quanto responder o que é um bom filme? Ou o que é um bom livro? Não pretendo dar uma resposta final ou criar uma regra absoluta, mas refletir um pouco sobre isso. É importante começar notando que para saber se um mangá é bom ou não, tem-se que distinguir as análises. Eu diria que existe a análise técnica e uma “emocional”. Na análise técnica e emocional me refiro a uma relação público-autor. Por que faço essa distinção? Na criação da arte há um aspecto intrínseco (de sua natureza) em si de ser uma mistura de técnica e sentimento.

É interessante pensar que ambos têm um peso igual, mas também desigual. Soou meio poético, mas a ideia é que em geral cada obra tem um objetivo, e isso tende a determinar o peso de cada aspecto. Falando primeiro do aspecto técnico: Essa seria aquela parte mais “dura” presente na concepção de uma obra, seria o conhecimento do autor sobre a montagem de uma narrativa, a organização da quadrinização do mangá, a arte e como ela cria uma individualidade do autor e seu mundo entre outros aspectos também. Seria possível dizer que isso é o que dá beleza a obra, é a parte que dá aquele brilho, digamos assim. Contudo não é o primeiro aspecto que é observado para citar um exemplo, eu diria que isso ocorre com ‘Tokyo Ghoul’, uma obra muito querida, mas também muito odiada. Na composição técnica é quase indiscutível que a obra trabalha muito bem com a composição de uma narrativa e com o desenvolvimento e verossimilhança dos personagens. Contudo, muitas vezes isso não é o suficiente para chamar atenção de alguns leitores.

Independente da vontade do autor, a primeira coisa que é observada, é o quão interessante é o plot inicial. Aqui entra o aspecto do sentimental. Seria o amor do autor pela sua obra, é o quanto o mundo é vivo. Não quer dizer que o mundo de Tokyo Ghoul não seja vivo ou mesmo que o autor não goste de sua obra. Eu diria que esse aspecto é maior quando a vontade do autor é contar uma história ao público, de modo a desejar que ele se identifique o máximo possível com as questões humanas gerais. Agora quando a ideia do autor é contar uma história de modo geral, ou seja, quando sua vontade é contar algo desenvolvido puramente com sua vontade e desejo de criar o melhor para si, não que ele despreze o público, mas é mais importante a obra ser boa do que o público se identificar de modo geral.

Vale citar que isso que estou levantando é a grosso modo, alguns detalhes podem ser tratados com mais cuidados em um texto futuro.

Vale citar nesse ponto, que uma obra que é muito viva e se importa muito com a vontade do público é One Piece, pode torcer o nariz, mas que o autor deu vida aquele universo, é indiscutível! As aventuras e motivações dos personagens aproximam o leitor do autor e a história é praticamente feita para eles. Pensando agora em uma relação público-autor, será onde tentarei responder a pergunte: O que é um bom mangá? Lembrando, que a relação autor-público é importante, contudo é uma outra questão, pois a dúvida que tento refletir é sobre como definimos a qualidade de um mangá.

Em uma análise técnica e seca podemos dizer que os leitores possuem uma visão mais ampla sobre a obra do que o autor, pois mesmo que o autor pense apenas na qualidade ele não pode tirar um componente que toda obra carrega, que é sempre ser uma extensão do autor. Mesmo que os leitores também sejam influenciados por suas concepções pessoais, eles ainda assim, creio eu, possuem uma visão mais ampla, ou ao menos tendem a isso. E nesse aspecto um mangá pode ser muito bom, sempre que tiver bem definido seus pontos técnicos. É possível admirar uma obra apenas por um aspecto técnico, mas isso não significa necessariamente que ela é boa para você. Por exemplo, indiscutivelmente, no ponto de vista técnico, há de se notar que Akira é um dos melhores mangás já escritos e desenhados, mas existem pessoas que não gostam dele. Essas pessoas estão erradas? Penso que sim. Brincadeiras à parte, isso nos leva ao segundo critério que é o emocional.

Emoções humanas são as coisas mais subjetivas e complexas de se analisarem de maneira objetiva, desse modo, é também a primeira coisa que se levanta no primeiro contato com uma obra é: A história é interessante? Essa é a primeira pergunta e o primeiro chamado. Você pode argumentar que quando a história é bem feita em um aspecto técnico ela inevitavelmente será interessante. Entretanto eu pergunto: Interessante para quem? A análise emocional seria a forma a qual o leitor se identifica emocionalmente com a obra. Eu por exemplo gosto muito de Bleach, eu entendo que a obra possui muitos problemas técnicos, mas mesmo assim o aspecto emocional supera isso para tornando a obra assim “boa”.

Todos gostam de algo que é “ruim”, a questão principal é o quanto se é honesto ao dizer que aquilo é “bom”. A princípio vi muitas pessoas odiando e sendo haters de Black Clover, por conta do alto número de clichês, mas hoje a quantidade de fãs cresceu de maneira incrível. Isso significa que a obra ficou boa? Não necessariamente, mas significa ao meu ver que para quem lê a obra ganhou um espaço em seus corações, tornando boa, por conta de um aspecto emocional. Não é uma regra geral, mas o que eu quis dizer com tudo isso é que não é tão simples dizer se algo é bom ou não. Ao mesmo tempo que devemos ser sinceros conosco ao analisar o porquê de gostarmos tanto daquilo.

Não me julguem, mas, gosto muito de Sword Art Online.  Porém reconheço que em si, não é a melhor obra já feita. Mesmo assim em uma análise emocional a obra ainda assim é mui querida por mim.

Por fim, obrigado, por chegar até aqui. Saiba que não é errado gostar de algo considerado “ruim”. Sendo assim, curtam como puderem e sejam honestos consigo, ao discutir sobre a obra que gostam, pois isso apenas melhora a convivência da fandom como também se aproveita de maneira mais clarificada as obras. Vale lembrar também que não é errado gostar de algo popular, mas isso é assunto para outra hora. Foi uma prazer e até a próxima!

Sobre Victor Nerd 101 70 artigos
Nascido em São Paulo/SP, tem 20 anos e coleciona quadrinhos há quase 10 anos, possuindo uma coleção gigantesca, aficionado desde sempre pelo setor. Atualmente cursa a faculdade de direito e realiza pesquisa em filosofia do direito, além de ser colaborador no NEXP, participar de podcasts e apresentar o programa Angústia Nerd.