Toca Raul #1: Conheça cinco álbuns fundamentais para entender a obra do “Maluco Beleza”

Se estivesse vivo, Raul Seixas completaria 76 anos neste mês. Nascido em Salvador no dia 28 de junho de 1945, Raulzito, como era chamado no início de carreira, fez história como cantor, compositor, produtor musical e principalmente, como um dos maiores personagens da nossa música.

Para entender um pouco melhor a obra desse grande artista, iremos falar nesta e na próxima semana, sobre os melhores discos da trajetória do Maluco Beleza. Confira!

Capa inspirada no álbum With the Beatles,
lançado pelo quarteto de Liverpool em 1963.

Raulzito e Os Panteras (EMI-Odeon, 1968)

Formado em Salvador na década de 1960, Os Panteras tiveram outros nomes (Relâmpagos do Rock e The Panters) antes de fazerem sucesso na cidade. Liderados por Raulzito (Voz e Guitarra), os músicos Carlos Eládio (Guitarra), Mariano Lanat (Baixo) e Carleba (Bateria) foram para o Rio de Janeiro a convite de Jerry Adriani (1947-2017) para acompanhá-lo ao vivo. A essa altura, o quarteto era banda de apoio dos principais ídolos da Jovem Guarda quando se apresentavam na Bahia, como o próprio Jerry e até mesmo Roberto Carlos.

Gravado no final de 1967 e lançado no verão do ano seguinte, o trabalho é o mais “ingênuo” da carreira de Raul, com forte influência de iê-iê-iê e composições de todos os membros do grupo. Destaque para “Por quê? Pra quê?” (Eládio), acompanhada por um órgão elétrico e por um belíssimo arranjo de cordas, as alegres “Me Deixa em Paz” (Mariano/Raulzito/Carleba), “Trem 103” (Raulzito) e a versão de “Lucy In The Sky With Diamonds” (Lennon/McCartney) dos Beatles transformada em “Você Ainda Pode Sonhar” (Raulzito). A canção foi regravada anos mais tarde pelo Ira! no disco Meninos da Rua Paulo (WEA, 1991) e por Zé Ramalho no álbum-tributo Zé Ramalho canta Raul Seixas (BMG-Ariola, 2001), onde Raul é homenageado.

O disco vendeu pouco e o conjunto se desfez. Posteriormente, Raul tornou-se produtor e compositor de artistas populares da gravadora CBS como Renato e Seus Blue Caps, Odair José, Leno & Lilian, Diana e Balthazar.

Krig-ha, Bandolo! (Philips, 1973)

Após participar da sétima edição do Festival Internacional da Canção cantando “Let Me Sing, Let Me Sing“, Raul foi contratado pela gravadora Philips em 1972, que tinha entre seus diretores nomes como André Midani (1932-2019) e Roberto Menescal. No mesmo período, se aproxima do jovem escritor Paulo Coelho, que escrevia artigos sobre OVNIs e extraterrestres em revistas alternativas do Rio de Janeiro.

Produzido por Marco Mazzola, o disco traz clássicos da música brasileira como “Metamorfose Ambulante“, “Ouro de Tolo“, “Mosca na Sopa” e “Al Capone” (Raul/Coelho), além de canções pouco conhecidas pelo grande público, como “Rockixe“, com uma linha de baixo marcante e forte presença metais e a folkAs Minas do Rei Salomão“, também feitas em parceria com Paulo.

Krig-ha, bandolo! foi o primeiro trabalho de Raul Seixas a ter grande repercussão, vendendo cerca de 67 mil cópias na época do lançamento. Está na lista dos 100 maiores discos da música brasileira, criada pela Rolling Stone Brasil em 2007, além de ser considerado por muitos como a obra-prima da carreira de Raul.

Gita (Philips, 1974)

Álbum de maior sucesso da carreira de Raul, , Gita é considerado um marco na história da música brasileira, com cerca de 600 mil cópias vendidas.

Após a gravação, o cantor foi convidado pelo governo do general Ernesto Geisel (1907-1996) a se retirar do país, tendo se exilado nos Estados Unidos. Algumas lendas giram em torno deste acontecimento, dentre elas, um suposto encontro com John Lennon (1940-1980) na porta do Edifício Dakota, residência do ex-beatle em Nova Iorque.

Em uma entrevista para o programa Jô Soares Onze e Meia (SBT), Raul diz que foi convidado a retornar ao país em decorrência do sucesso do disco, que contém sucessos como “Medo da Chuva”, “O Trem das Sete”, “Sociedade Alternativa”, “As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor” e a faixa titulo “Gita”, considerado seu maior hino.

Das doze canções presentes no trabalho, sete foram feitas com Paulo Coelho, sendo o auge da parceria dos compositores. Destaque para os rocks “Super Heróis”, “Loteria da Babilônia”, a lírica “Água Viva” e “Moleque Maravilhoso”.

Novo Aeon (Philips, 1975)

Lançado no final de 1975, Novo Aeon não repetiu o sucesso comercial alcançado pelos dois álbuns anteriores e focou menos em textos e assuntos místicos.

Apesar da baixa repercussão, o trabalho foi elogiado por ser um dos mais “roqueiros” de Raul até então, com músicas como “Rock do Diabo” (Raul/Coelho) e “Eu Sou Egoísta” (Raul/Marcelo Motta). Na época, o jornalista Nelson Motta chegou a comparar o disco com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (EMI, 1967), divisor de águas da carreira dos Beatles e elegeu Novo Aeon como “o álbum do ano” em sua coluna no jornal O Globo.

Os maiores sucessos do disco são “Tente Outra Vez”, considerado outro grande hino, e a romântica “A Maçã”, as duas, parcerias de Raul com Coelho e Motta.

Outros destaques são a brega “Tu És o MDC da Minha Vida”, o rockabilly “A Verdade Sobre a Nostalgia” (Raul/Coelho), “Peixuxa (O Amiguinho dos Peixes)” (Raul/Motta), sob forte influência de “Ob-La-Di, Ob-La-Da” (Lennon/McCartney) dos Beatles, a surrealista “Paranoia” e a ácida “Fim de Mês”, ambas compostas apenas por Raul.

A Panela do Diabo (WEA, 1989)

Último álbum de Raul lançado em vida, A Panela do Diabo foi composto e gravado em parceria com Marcelo Nova, na época, recém-saído do Camisa de Vênus. A amizade entre os conterrâneos começou em 1984, em uma apresentação da banda de Marcelo no Circo Voador, localizado no bairro da Lapa, região central do Rio de Janeiro. Raul apareceu para assistir e cantar com o conjunto soteropolitano, que ficou conhecido pelo nome polêmico e por suas apresentações efusivas. A partir desse dia, Nova, que já era fã de Raul desde a década de 60, aproximou-se de seu ídolo e anos mais tarde, começou uma parceria através de “Muita Estrela, Pouca Constelação” música presente no álbum “Duplo Sentido” (WEA, 1987), último trabalho da primeira fase do Camisa.

No ano seguinte, já em carreira solo, Marcelo convidou Raul para participar do show de lançamento do seu então novo disco, Marcelo Nova & A Envergadura Moral (WEA, 1988) na Concha Acústica do Teatro Castro Alves em Salvador. Bastante debilitado por conta do alcoolismo, Raul estava longe dos palcos desde 1985 e vivia um momento de ostracismo quase completo em sua carreira. Entretanto, a apresentação foi o pontapé inicial para uma turnê de 50 shows realizada entre 1988 e 1989 e a gravação de A Panela do Diabo.

Com essa excursão, Raul Seixas voltou a grande mídia e a dupla se apresentou em programas como Domingão do Faustão (Globo) e o já citado Jô Soares Onze e Meia (SBT).

Lançado em 19 de agosto de 1989, dois dias antes da morte de Raul, o álbum foi bem recebido pela crítica e atingiu o status de disco de ouro, com 100 mil cópias vendidas. Os destaques são as faixas “Carpinteiro do Universo”, “Século XXI” e as bem humoradas “Pastor João e a Igreja Invisível” e “Rock and Roll”, com letra que conta a trajetória de Seixas e Nova até aquele momento. As canções foram bem executadas nas rádios e fazem parte dos shows de Marcelo até os dias atuais. Outras canções fortes são “Quando eu Morri”, que narra a experiência de Nova com LSD e “Nuit”, parceria de Raul com sua ex-esposa Kika Seixas.

Daqui duas semanas, traremos a resenha de mais cinco grandes discos. Toca Raul!

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