“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?” – Mateus 7:15-20
Rogai por Nós, foi produzido pela Screen Gems, subsidiária da Sony Pictures em parceria com a produtora Ghost House. É uma adaptação do livro de 1983 Shrine de James Herbert. Produzido por Sam Raimi (O Grito, O Homem nas trevas, Possessão e o clássico Uma Noite Alucinante e Evil Dead). Marcou a estreia de Evan Spiliotopoulos como diretor de cinema, o grego trabalhou com a Disney durante longo período e foi roteirista de filmes com destaque como As Panteras (2019) A Bela e a Fera (2017) O Caçador e a Rainha do Gelo (2016) e Hércules (2014).
Após assistir ao trailer e ver repercussão negativa por parte de não amantes de filmes de terror, já sabia que o filme poderia ser bom, quando se envolve religião, críticas e questionamentos sobre o que é verdade ou não, isso crava que é uma produção que chama a atenção! O filme de 2021 que vai ser lembrado por longo anos.
Alice (Cricket Brown) uma jovem garota, surda e muda de uma pacata cidade em New England, no nordeste interiorano dos Estados Unidos e sua história se cruza com a do jornalista Gerry Fenn(Jeffrey Dean Morgan), conhecido por inventar histórias, cético e com uma moral muito duvidosa, vivendo de Freelas, Fenn se desloca para criar mais uma história e acaba libertando um mal existente em uma boneca “rainha da colheita” utilizada para trazer bons presságios, mas que aprisionava a alma de uma bruxa queimada em uma árvore em 1835. Alice apresenta sinais de cura total de sua deficiência após uma suposta visita do que seria a sagrada Virgem Maria, inicia-se ali uma saga de curas, milagres, feitos santos por Alice e logo uma multidão começa a louvar e seguir a jovem, com a viralização da internet, jovens pelo mundo e religiosos começam a tratar a menina antes não notada, como uma verdadeira Santa. E tudo isso graças a Fenn que aproveitou a oportunidade da mídia com cunho religioso para voltar aos holofotes do jornalismo investigativo, tornando-se até porta voz oficial de Alice para a imprensa mundial.
Começam a surgir eventos sobrenaturais, atitudes estranhas da nova sensação religiosa, fatos aterrorizantes, visões de Fenn sobre lugares sombrios e uma grande dúvida sobre a veracidade dos milagres e se realmente é a Virgem Maria que está em contato com Alice ou algo sombrio se apossando da inocência de uma indefesa para questionar a fé e propagar o mal.
Entre os protagonistas, Jeffrey Dean Morgan (Negan em The Walking Dead) que vive Gerry Fenn é incrível em seu papel, já Cricket Brown que interpreta Alice, estreou em um longa-metragem pela primeira vez e fez um papel principal como poucas estreantes, um sucesso iminente. O filme conta com outros personagens secundários de suma importância para a trama, como o Tio de Alice, o Padre Hagan (William Sadler), Bispo Gyles (Cary Elwes, prefeito em Stranger Things), o Monsenhor do Vaticano Delgarde (Diogo Morgado, Csi, Revenge e MacGver) e a médica da cidade, Drª Natalie Gates (Katie Aselton, Legion).
As cenas são eficientes para qualquer pessoa entender, se desenrolam, não retornam ao passado e o principal de todo o filme, HÁ UM ENREDO, uma história a se contar, tudo neste filme segue por um motivo, não há cenas de desperdício, mesmo as de alívio cômico, a sensação de terror é iminente, aparições, monstros, sustos, foge do tradicional, até quando os efeitos especiais e visuais são bastante utilizados.
Outro ponto positivo é a aparição do sobrenatural para todos os presentes, claro que Joseph Bishara (maior intérprete e designer de maquiagens sóbrias do cinema) estava interpretando Marie Elnor, a Bruxa! E assim o 3D é rápido, sem uso de tecnologia demais. O ponto negativo fica por conta da pouca exploração do oculto, com mais cenas intrigantes ou durante o período noturno. E sem dúvidas o ápice é a crítica feita por Spiliotopoulos com o fanatismo religioso, a fé em qualquer coisa que oferecer um efeito instantâneo, a crítica não é somente ao catolicismo e sim aos falsos profetas, até aqueles das igrejas em garagens. O diretor grego utilizou a Virgem Maria, não como um desrespeito, mas pela utilização do efeito animalístico, fé por imagens na religião. Uma dura e real DÚVIDA em todas as formas de fé e de propagação de falsos testemunhos, é o melhor filme de terror envolvendo críticas religiosas.
Logo na primeira cena o telespectador é colocado em um ponto não explorado no terror, a visão do grande causo para todo o mal acontecer, quando uma máscara de santa é pregada em uma mulher que praticava a bruxaria em nome de Satanás, sim isso mesmo que você leu, é dessa forma chocante e direta que foram feitas as críticas aos inquisidores da igreja católica em um período tão assombroso da história. A forte utilização dos ‘Santos’ da igreja é bem explorada, nítida e quebrando o paradigma de outras produções na qual dentro de uma igreja na presença de cruzes o mal não pode se manifestar, em Rogai por Nós, muitas barreiras de imagem foram quebradas, isso dá uma credibilidade ao diretor em futuras produções.
O final gera aquilo que a produção te oferece em sua história, a dúvida, afinal não sabemos se a bruxa foi morta ou está aprisionada no corpo de sua hospedeira. Alice volta a ser muda, Fenn é usado por Deus como um pecador que pode se reencontrar e mudar seu caráter mudando o rumo da história e agindo certo, já o padre “bom” morre e o ruim e ganancioso permanece, mas com pouco mais de 250 filmes de terror/horror assistidos, aprendi que o Mal nunca morre ou acaba, ele apenas te deixa com vontade de saber se há fé ou não em sua interpretação.