Rei de Lata: O mangá brasileiro que bombou no Anime Friends

Rei de Lata protagonista

Depois de três longos anos de espera o Anime Friends voltou. O maior evento de cultura pop asiática aconteceu nos dias 8, 9 e 10 de julho, e um dos destaques do eventos foi o mangá nacional Rei de Lata, que ganhou um espaço no estande da New Pop.

Rei de Lata Protagonista

O NEXP entrou em contato com o autor de Rei de Lata, Jefferson Ferreira, que, gentilmente, concedeu uma entrevista contando um pouco sobre a obra e as inspirações que o fizeram desenvolver a história:

Tem uma série de fatos (que fez ele desenvolver a obra), mas acredito que o gatilho aconteceu há mais de 12 anos, quando eu ainda estava no ensino médio, enquanto fazia um dever de casa vi em um livro uma imagem de duas crianças abraçadas e sorrindo com um cenário ao fundo destruído. Na mesma hora fiz alguns desenhos inspirados na imagem, mas acabei perdendo com o tempo. Anos depois, em 2016, fiquei sabendo de um concurso de quadrinhos e decidi participar. Por algum motivo, lembrei daquela imagem e pensei que seria interessante desenvolver um roteiro em que crianças vivessem em sociedade e se protegessem. E para ficar ainda mais interessante taquei os poderes.

 

A participação do Jefferson no concurso foi uma montanha russa, afinal de contas ele estava pipocando de ideias, mas ele não conseguiria colocar tudo em prática, já que o concurso tinha um limite de página, foi aí que surgiu o Rei de Lata:

O problema veio quando vi que todas as minhas ideias principais não iriam caber no limite do concurso, que era de 32 páginas. Foi aí que decidi fazer uma série, lançando o meu primeiro capítulo no dia 10 de março ded 2017.

 

As obras atuais tentam sempre passar uma crítica, seja envolvendo política e/ou diversidade, fazendo com que os leitores reflitam no que está acontecendo na vida real. Jefferson falou um pouco sobre isso e confessa que, no início, não tinha tanta intenção de passar qualquer tipo de mensagem para o público, mas que isso foi mudando com o crescimento da obra:

Para ser sincero quando criei o plot inicial não tinha intenção nenhuma de passar alguma mensagem, na verdade foi mais uma forma de tentar me conectar com as pessoas através da história, causando algum tipo de sensação nelas. A expectativa era de que depois de lerem que compartilhassem comigo o que sentiram.

Mas com o tempo eu fui vendo que Rei de Lata também estava atingindo algumas pessoas de uma outra forma. Desde a identificação com os nomes brasileiros até se enxergar em algum personagem que gostam, seja pelo biotipo ou pelo tom da pele. Espero que cada vez mais se acostumem com a diversidade de personagens na obra.

 

Os quadrinhos no Brasil não são muito populares, mesmo com o sucesso do gibi da Turma da Mônica, é bem difícil ver alguma história ganhando destaque. Isso acontece por falta de oportunidade para os quadrinistas e também pelo fato de que 40,8% das crianças no Brasil não são alfabetizadas, com isso não desenvolvendo um hábito de leitura, prejudicando bastante o mercado em questão.

Jefferson falou sobre isso e, segundo ele, o cenário tem mudado para os quadrinistas brasileiros:

Olha, nesses últimos dois anos senti que surgiu uma luz para a galera que trampa com quadrinho. Tem muita editora independente dando o sangue para publicar quadrinistas novos e até mesmo as editoras grandes estão apostando no Brasil.

 

Inclusive, Jeff falou um pouco sobre o impacto da New Pop na vida dele e até brincou com a editora ”minha rainha”:

A NewPOP, minha rainha, acreditou em mim e por conta dela hoje estou conseguindo trampar só com Rei de Lata, coisa que na minha cabeça era impossível até 2020.

 

E graças a tudo isso, ele vê boas expectativas para este mercado:

Cada vez mais tem gente produzindo quadrinho, quando você menos espera surge uma obra promissora no twitter. Acredito que daqui para frente é só para frente.

 

Além do impacto nacional que ele causou com a sua obra e com a ajuda da editora, o autor também contou um pouco das suas expectativas para um potencial mercado internacional e, novamente, citou a importância da NewPOP nessa transição:

Fico muito tempo focado na produção diária das páginas que acabo não projetando objetivos a longo prazo, mas a danada da NewPOP não dorme no ponto e está licenciando Rei de Lata para mais 2 países (sem informações dos países). Então agora tenho bastante expectativa.

 

Obviamente, um pai sempre quer ver o filho brilhando e com o Jeff não é diferente. Ele contou como se sentiu vendo a obra que ele desenvolveu ganhando destaque no maior evento de cultura pop asiática da América Latina:

Parece que nem aconteceu de verdade (risos) eu fico na frente do computador desenhando o dia inteiro há anos que me desliguei um pouco do mundo, perco a noção do tempo e dos dias, porque vivo no meu mundinho de criador de história. Quando algo desse tipo acontece tenho dificuldades de assimilar ou de ter noção da dimensão do fato. Mas assim como quando alguém faz uma fanart, um vídeo sobre ou faz questão de vir falar do quanto gosta de Rei de Lata, só me dá mais motivação para continuar e também aquela sensação de que talvez eu esteja no caminho certo.

 

Você pode ler Rei de Lata no Tapas, no entanto a obra se encontra em hiato e tem previsão de voltar ainda esse mês, com mais quatro capítulos. Segundo o autor, a ideia é de pausar a cada quatro capítulo para acumular material. Jeff contou que é uma estratégia que ele vai tentar colocar em prática. Se interessou? Segue a sinopse:

Em um mundo, que após várias guerras, teve seu pior desastre, foi lançada uma arma biológica que praticamente causou a extinção de todo um país. O que não esperavam é que, após o ataque, toda criança nascida era propícia a ter uma espécie de anormalidade no organismo e eventualmente manisfestar algum tipo de poder gerado por seu instinto de sobrevivência, trauma ou situação extrema. Por serem os únicos imunes ao ar, passam a ser odiados e temidos por muitos adultos. As super crianças então, tem que lutar pela sobrevivência em um país pós-guerra.