O projeto shaun, do artista porto-alegrense João Carneiro, lançou o EP Atraso Marcado, contendo quatro faixas acompanhadas de “lyric clipes”, como o próprio João apelidou os vídeos. A produção do álbum é assinada por Jojô (Tagua Tagua), e a distribuição pela Tratore.
O trabalho, registrado no estúdio Legato, em Porto Alegre (RS), traz para o primeiro plano a sintonia entre João e Jojô, que trabalham juntos desde 2014, quando Jojô produziu o primeiro single da Bordines, ex-banda de João. Além de dividirem inúmeras referências musicais, a dupla também conseguiu amadurecer o necessário para o projeto se solidificar.
“Montamos os equipamentos nos primeiros dias e deixamos lá. Uma sala só nossa, o que nos deu bastante liberdade”, revela João, que também comenta sobre a dificuldade em conciliar a composição e gravação do álbum com seus trabalhos paralelos: “Eu tenho outro trabalho além da música e o Jojô fazia outros trampos também. Não tínhamos o dia inteiro, precisávamos aproveitar os horários disponíveis e quase sempre sobrava das 20h – às 4h. No dia seguinte, era complicado acordar pra trabalhar no meu outro trabalho. Passei mal por alguns dias, dormindo em média 3 horas por noite”, pontua João.
“Encarei esse EP com uma lupa pra dentro do universo do João. Tem tudo que eu conheço das coisas que ele gosta, desde Tropicália a Beastie Boys, passando por todo britpop, Planet Hemp e por uma geração nova de rap – tudo ao mesmo tempo com um discurso muito afiado e contemporâneo. Ora olhando pra sociedade, ora olhando para si, vindo de alguém que sempre está observando coisas que às vezes passa despercebido para a maioria das pessoas”, revela Jojô sobre o processo de produção da obra.
Faixa a faixa
Abrindo o EP, Atraso Marcado, que batiza o disco, aborda irônicas críticas à velocidade da informação e como o mundo se relaciona com isso, de forma automática, sem notar o vácuo deixado no presente momento. “É a primeira dessas quatro que eu compus, lá no auge da pandemia, em julho de 2020. Ela ainda traz o lado mais roqueiro da shaun, com bastante influências do The S.L.P, projeto do Serge Pizzorno, vocalista do Kasabian”.
Assim como em todos os lyric clipes, a idealização ficou por conta de João (o protagonista do vídeo desta faixa – que mostra o compositor correndo pelas ruas de Porto Alegre e nunca chegando ao seu destino final) e Lucas Juswiak, responsável também pela direção, filmagem, edição e colorização.
Na sequência, Amnesia Haze traz uma atmosfera litorânea, misturando diversificadas referências como Primal Scream e The Rolling Stones, do Black and Blue. “Aquele lance de casal que vai pra praia no final de semana, no inverno, só os dois, vivi muito isso durante a pandemia. Também acredito que tenha na letra, um jeito muito meu de me colocar”. Jojô completa: “essa canção soa como uma folga, um feriado, uma tarde que o cara foi fumar um pra conseguir relaxar de todas essas observações e sentimentos presentes no disco”.
Lábios de Gudang introduziu a banda no universo da temática do amor, e João conta que além de se inspirar na tradicional referência do rock madchesteriano, bebeu da fonte do compositor norte-americano Lou Reed para escrever a letra: “Tentei falar de amor de uma maneira não tão óbvia, como ele. É a história, meio que narrada – tentando colocar o ouvinte numa situação parecida – de duas pessoas que se amam, que se desejam – se olham e imaginam as cenas que podem viver juntes – e uma delas se sente ainda mais atraída pelo fato da outra ter esse sabor inusitado, originado do Gudang”. A música foi o single que deu início a divulgação do EP e nasceu com um videoclipe dirigido por Bruno dos Anjos (OCorre Lab), que conversa também com o lyric clipe da canção, gravado no mesmo bar.
A faixa que fecha o EP, Tatuagem, evidencia ainda mais as referências de Happy Mondays e Stone Roses, acompanhada de um quê da Tropicália dos anos 70. Inspirada pelo filme brasileiro com o mesmo título da canção, a letra discorre sobre ressignificação:
“É sobre ser jovem, sobre esquecer velhas fases e começar novas, sobre reconhecer a si mesmo e o local onde se vive”, e João finaliza: “No dia em que eu recebi a mix final dessa música, foi um dos dias mais difíceis da minha vida, pois recebi a notícia de uma doença séria envolvendo um familiar. A frase da música ‘e o sal desse mar sempre ajuda a secar algumas das feridas que insistem em não fechar’ passou a ter um novo significado naquele momento, foram dias muito difíceis, mas a pessoa se recuperou”.
Sobre o vídeo que acompanha a letra, o músico finaliza: “Para essa música, tentamos buscar algo que remetesse a brasilidade da música. O plano de fundo é o Rio Guaíba, em Porto Alegre, em um dia quente de sol”.
Capa
Lucas Juswiak foi responsável pelas fotos de divulgação do EP, e também pela arte que estampa a capa do disco, desenvolvida a partir de registros feitos por João e sua companheira, Giulia Calloni, enquanto o artista habitava temporariamente a casa de praia da família no litoral gaúcho.
“Em um dos dias a Giulia levou uma câmera analógica, e gastamos um filme durante o final de semana. Saíram algumas fotos que achei que de alguma maneira tem ligação com toda a ideia do álbum. A partir disso, o Lucas juntou duas dessas fotos e fez essa colagem/montagem maluca, cheia de transparência. A foto da Plataforma Marítima de Atlântida foi tirada por mim, e a minha sentado na sala da casa de praia foi tirada pela Giulia”, revela João.
SOBRE PROJETO SHAUN
João Carneiro, é um cantor e compositor natural de Porto Alegre, fundador do projeto shaun, que conta com os músicos Lucas Juswiak (baixo), Arthur da Costa (percussão/vozes), Samuel Kirst (teclas/vozes), Bruno Neves (bateria), Eduardo Comerlato (guitarra) e Leonardo Braga (guitarra), sendo os dois últimos, ex-parceiros em um projeto anterior, a banda Bordines.
O grupo fez sua estreia com o single Terra em Transe (2019), e seguiu os lançamentos com as faixas Babylon (2020) e Voltando do Trabalho (2020). Já em 2021, lançou o EP re-codificado com remixes das canções lançadas anteriormente.
Em 2022, o projeto shaun lança o primeiro EP de músicas inéditas, Atraso Marcado, com produção de João Augusto Lopes, o Jojô, integrante do Tagua Tagua e Filipe Catto, além de mixagem do vencedor na categoria de melhor álbum de rock em português no Grammy Latino, em 2016, Guilherme Ceron.