Em meio à uma pandemia que já tirou quase 3 milhões de vidas ao redor do mundo (e mais de 500 mil só nos EUA), o Oscar achou que seria uma boa ideia decidir que os nomeados das categorias que quiserem discursar ou apresentar prêmios deverão estar fisicamente presentes no evento que acontecerá dia 25 de abril, na Union Station em Los Angeles.
De acordo com o Yahoo e o Deadline, a Academy Awards, organização responsável pelo evento, enviou uma carta aos nomeados informando a decisão e dizendo que videoconferências pelo Zoom não serão possíveis: “Para aqueles de vocês que não podem comparecer por causa de agendamento e outros fatores, queremos que saibam que não haverá a opção de se conectar pelo Zoom”.
Somente os nomeados, seus convidados e apresentadores serão permitidos no evento, além das equipes técnicas nos bastidores. Mesmo assim, é uma ideia inviável dada todas as circunstâncias da Covid-19. Além disso, muitos estão em outros países e terão que viajar até ‘LA’, sendo que o número de voos está diminuindo e estão mais restritos, notícia que está frustrando os assessores e as produtoras, que terão que arcar com os custos e as logísticas de viagem.
A carta também garante que o coronavírus não vai interferir nesse evento presencial: “Estamos fazendo de tudo para fornecer uma noite segura e agradável para todos vocês pessoalmente, bem como para todos os milhões de fãs de cinema em todo o mundo, e sentimos que o virtual diminuirá esses esforços”.
Eu entendo que o Oscar queira ter um diferencial e queira se destacar em meio à loucura que tem sido fazer premiações em tempos pandêmicos, evitando encarar problemas técnicos, como aconteceu com o ator Daniel Kaluuya ao discursar pelo prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Golden Globes com o microfone no mudo. O Oscar quer fugir dessas possíveis gafes e problemas, inviabilizando o bom andamento e reputação da premiação, e eu reconheço isso.
E, no fim das contas, é preferível ter uma gafe ou outra a colocar artistas e técnicos em risco tanto na locomoção quanto na presença no evento. Opções não faltam para solucionar esse receio: melhor conexão de internet; uma equipe auxiliando os artistas que tiverem problemas técnicos; uma plataforma de videoconferência de melhor qualidade. Convenhamos que dinheiro não seria um problema para proporcionar tudo isso.
Durante seus 93 anos de trajetória, a Academia foi excludente em relação à indicação de mulheres na categoria de Melhor Direção. Este ano, temos pela primeira vez duas mulheres ao mesmo tempo concorrendo ao prêmio: Emerald Fennell, por “Promising Young Woman” e Chloé Zhao, por “Nomadland”. Sem a opção de marcar presença via Zoom, é possível que as duas diretoras talvez não compareçam.
Se a Academia realmente decidir seguir com essa ideia, acredito que será a perda de um momento histórico para mulheres diretoras, um desserviço para com os artistas e um descaso com a pandemia.