Criaturas icônicas de fisionomia ímpar, cenários extraordinários e uma narrativa que sempre pende para o sombrio, mesmo se for um conto de fadas. Estamos falando das singulares obras de Guillermo Del Toro, o premiado cineasta, roteirista e produtor de Guadalajara, México.
Mas como Guillermo Del Toro se tornou o renomado diretor que conhecemos?
Muito cedo, ainda adolescente, Del Toro demonstrou um grande interesse por cinema. Logo ele aprendeu sobre efeitos e maquiagem com Dick Smith – que trabalhou em “O Exorcista” – e de lá para cá foram muitos anos entre o trabalho como supervisor de maquiagem e diretor programas para a TV Mexicana, até ele se tornar conhecido pelo grande público com seu trabalho, sempre marcado por sua estética marcante.
Aliás, muitos anos e também alguns altos e baixos. Em 1986, Del Toro foi produtor executivo de seu primeiro filme, “Dona Herlinda e seu Filho”, mas apesar de figurar em 65º lugar na lista dos 100 melhores filmes do cinema mexicano, a produção que conta a história de um médico solteiro que tem um romance gay secreto enquanto é pressionado por sua mãe a se casar e lhe dar netos, não é muito popular hoje em dia…
Seu primeiro sucesso foi “Cronos”, de 1993, um filme que se passa em 1500 e conta a história de um alquimista que inventa um artefato capaz de lhe conceder a vida eterna: o Cronos. Séculos depois, o objeto chega às mãos de um vendedor, que dispara o mecanismo e causa uma grande transformação em sua vida e descobre também seu poder destrutivo. O filme ganhou nove prêmios no México e se tornou um sucesso em Cannes.
Então veio “Mimic”, a história de uma cientista que desenvolve uma mutação genética em um grupo de baratas para eliminar uma infestação de outras baratas – pois é, esse ponto ficou confuso para nós também – Só que depois de 3 anos as baratas modificadas aumentaram de tamanho e incluíram seres humanos no seu cardápio. O resultado foi um fiasco e com ele Del Toro fez as malas e voltou para o México e de lá só saiu novamente para o mundo depois que fundou a produtora The Tequila Gang – sim, adoramos o nome – e lançar o sucesso de crítica “A Espinha do Diabo”, sobre um garoto de 12 anos deixado no orfanato Santa Luzia, em plena guerra civil espanhola e lá descobre o espírito de um ex-aluno em busca de vingança que pede ajuda do menino para investigar seu assassinato.
E em seguida veio sua jornada com heróis e anti-heróis do cinema estadunidense: “Blade II” em 2002, “Hellboy” em 2004 e “Hellboy II: o Exército Dourado” em 2008, além de “Hellboy: Espada das Tempestades” e “Hellboy: Blood & Iron” uma série animada produzida entre 2006 e 2007. Seu grande sucesso que o lançou definitivamente ao estrelado surgiu dentro desse período: em 2006 o mundo viria a se maravilhar com a possivelmente mais popular de suas obras até hoje: “O Labirinto do Fauno”.
O filme se passa na Espanha, 1944 assim que se encerra a guerra civil, embora um grupo de rebeldes ainda lute nas montanhas ao norte de Navarra, para onde Ophelia e sua mãe se mudam para viver com seu novo padrasto, o capitão Vidal, uma figura cruel, abusiva e detestável. Logo Ophelia se depara com um fauno que lhe conta que a ela é a reencarnação de uma princesa que fugiu de um reino subterrâneo mágico, cheio de beleza, encantos e seres fabulosos. A menina então precisa realizar três tarefas perigosas, afim de mostrar sua real identidade como princesa. Mesmo com a ajuda de fadas e alguns objetos mágicos, as tarefas serão perigosas e alguns seres malignos tentaram impedir seu progresso…
Já percebemos que Del Toro gosta muito do contexto da guerra civil espanhola, mas não é só isso que pesa nas decisões do diretor: apesar das ofertas de milhões de dólares em Hollywood para que o filme fosse feito com produtores norte-americanos, Del Toro se recusou a fazer o filme em inglês e não quis adaptar o roteiro às necessidades do mercado. Além disso, decidiu ele mesmo legendar “O Labirinto do Fauno” em inglês para não perder nada do conteúdo com a tradução e transcrição dos diálogos.
Quer saber um elemento importantíssimo que “O Labirinto do Fauno” tem em comum com muitas obras de Del Toro? Doug Jones.
O ator e contorcionista é capaz de movimentos estranhos e únicos com seu corpo, por isso atuou como o Fauno e como o Homem Pálido em o “O Labirinto do Fauno”, mas também representa outros personagens fantásticos nas obras de Guillermo Del Toro, como Abe Sapien, o homem anfíbio de “Hellboy” e Hellboy 2”, onde também interpretou o Chamberlain e o Anjo da Morte, assim como os fantasmas da mãe de Edith e de Lady Sharpe em “A Colina Escarlate”.
“O Labirinto do Fauno” foi tão bem-sucedido na cultura pop que ganhou uma versão em livro, muito mais completa que o filme, repleto de interessantíssimas histórias paralelas que permeiam a narrativa principal e belas ilustrações. O filme, por sua vez, foi amplamente premiado, ganhando três Oscares em 2007: melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor maquiagem. O longa também levou o British Academy Film Awards de melhor filme em língua não inglesa e melhor maquiagem. Além da produção conquistar de diversos outros prêmios em variadas categorias, Ivana Baquero, que interpretou a protagonista Ophelia, recebeu o prêmio Goya de melhor atriz revelação.
Como a era das animações chega para todos, entre 2011 e 2012, logo após pouco memorável “Não Tenha Medo do Escuro”, Del Toro produziu “Kung Fu Panda 2”, “O Gato de Botas” e “A Origem dos Guardiões” – tem resenha desse último aqui no site, é só clicar aqui – e só então vieram obras, digamos, mais a cara do diretor mexicano: “Mama” em 2013 e “A Colina Escarlate” em 2015.
O primeiro é um filme de terror e suspense sobre duas garotas abandonadas em uma cabana na floresta, cuidadas por uma entidade misteriosa que elas chamam de “Mama”. Apesar da premissa interessante, o filme não convenceu com os efeitos chamados de artificiais. Já o segundo é um romance gótico, sobre Edith, uma ingênua aspirante a escritora, que se apaixona e se casa com o baronete Thomas, indo morar com ele em uma mansão em ruínas, assombrada pelos fantasmas, literalmente falando, do passado de Thomas. Apesar do visual impecável – e sem dúvida esse é um dos mais belos filmes de Del Toro, visualmente falando – a narrativa é considerada um pouco batida e previsível, mesmo assim, o filme se saiu bem com a crítica e com o público em geral.
Só então, em 2017, chega a pena dourada de seu chapéu: “A Forma da Água”, que no ano seguinte rendeu a Del Toro o Oscar de melhor diretor e melhor filme, abocanhando também as estatuetas na categoria melhor direção de arte e melhor trilha sonora original. Você já sabe, o diretor adora ambientar suas tramas em grandes conflitos políticos e com “A Forma na Água” não é diferente: em meio as grandes transformações sociais ocorridas durante a década de 60 nos Estados Unidos, Elisa trabalha como zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, onde conhece uma criatura fantástica mantida presa no local. Logo que se afeiçoa ao ser marinho, Elisa pensa num plano para salvá-lo de seu cativeiro.
Mais uma vez vemos Doug Jones se transformando em uma criatura fantástica para Del Toro e encarando mais de 3 horas de maquiagem antes de cada gravação. O filme foi inspirado em “O Monstro da Lagoa Negra”, de 1954 e a atriz Sally Hawkins sempre foi a primeira para a protagonista Elisa, depois que Del Toro assistiu sua atuação no filme “Submarine”. O elenco também conta com a talentosa Octavia Spencer.
Nos anos seguintes vieram outras produções de Guillermo Del Toro, como a bem recebida “Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro”, sobre lendas urbanas de terror estadunidenses, com sua própria trama de mistério central a ser desvendada. O Diretor está na ativa até hoje inclusive com projetos para serem lançados em breve! E você? Ficou interessado em suas obras? Então confira as produções acima de comenta aqui para sabermos sua opinião! Bom filme!