Muito antes de Judy Garland calçar os sapatinhos de rubi que a conduziriam pela estrada de tijolos amarelos lá em 1939, quase quatro décadas antes, em 1900, L. Frank Baum lançava seu livro “O Maravilhoso Mágico de Oz”. Mas espere… Será que não estávamos falando de sapatinhos de prata?
Embora muitas pessoas saibam que o filme “O Mágico de Oz” foi inspirado em um livro, as diferenças entre as duas obras passaram despercebidas para boa parte delas. E nós começamos onde Dorothy começou: no Kansas. A menina que morava com seu cachorrinho Totó na casa de sua tia Em e seu tio Henry, acaba por alçar voo, quase literalmente, em grandes apuros, quando sua casa é levada por um ciclone até a distante e mágica terra de Oz. Ah, sim, Totó vai junto.
Após a casa aterrissar no País do Leste, ou a terra dos Munchkins, matando a Bruxa Má do Leste, Dorothy é recebida com grande alegria pelos moradores locais e pela Bruxa Boa do Norte. E se você só viu o filme, prepare-se para conhecer a primeira diferença: no filme, Glinda a Bruxa Boa do Norte é bela e jovial. No livro é uma velinha cujo nome não é mencionado. Mas outra coisa é mencionada: Haviam quatro bruxas na terra de Oz, as do Norte e do Sul eram boas. As do Leste e Oeste eram más.
Para resolver seu principal problema, que é voltar para casa, Dorothy precisa da ajuda do Mágico de Oz, que vive na cidade das Esmeraldas. Segundo o filme, o lugar não era tão distante, mas Dorothy enfrentará um grande desafio: o descontentamento da Bruxa Má do Oeste pelo assassinato de sua irmã malvada do Leste. Para os leitores, a Cidade das Esmeraldas na verdade é bem distante, uma viagem de muitos dias, cheia de obstáculos e alguns personagens a mais pelo caminho, além daqueles presentes em ambas as versões: o espantalho, cujo desejo é ter um cérebro; um homem de lata, que sonha em ter um coração e um leão covarde, em busca de sua coragem.
Finalmente chegando na Cidade das Esmeraldas, mais uma vez o cavalo muda de cor ao comparar o filme com o livro. Enquanto os estúdios da MGM nos entregaram a Bruxa Má do Oeste como a grande responsável pelos obstáculos no caminho de Dorothy, L. Frank Baum só nos apresenta a Bruxa como antagonista a partir desse ponto, quando o Mágico de Oz pede que Dorothy mate a malvada do Oeste, como um favor em troca de mandar a menina de volta para o Kansas.
E antes de voltar para casa, Dorothy descobre a mensagem da história do “Mágico de Oz”, sobre Acreditar em si mesmo e que suas qualidades estão dentro de você. Agora é só repetir “não há lugar como o nosso lar” enquanto bate os sapatinhos de rubi. Na verdade, somente no filme, onde o chefe do estúdio, Louis B. Mayer, sugeriu trocar a cor por algo mais brilhante que fizesse jus a novíssima tecnologia Technicolor da MGM. Só então os sapatinhos se tornaram vermelhos. No livro eles eram prateados.
De volta ao Kansas e ao filme, Dorothy reconhece os personagens extraordinários que conheceu em Oz como seus amigos na fazenda de seus tios. Até mesmo um vidente que ela encontrou na estrada parece remeter ao mundo mágico. Tudo leva a crer que Dorothy bateu a cabeça e sonhou com a terra de Oz. Nada disso acontece no livro, o romance infantil não sugere que Dorothy sonhou, mas sim que ela realmente esteve em Oz.
Para encerrar esse comparativo, é injusto tentar sugerir que livro é melhor que filme ou vice e versa. A verdade é que a história é maravilhosamente narrada em ambas as versões. Se por um lado temos a riqueza de detalhes do livro, contando com muitos capítulos interessantes deixados de fora da adaptação, o filme nos proporciona algo que só a magia do cinema pode fazer: a encantadora performance de Judy Garland cantando “Somewhere Over the Rainbow”, capaz de emocionar gerações desde de 1939 até hoje.
Se você conhece apenas uma das versões, seja o filme ou livro, eu sugiro que você siga agora mesmo a estrada de tijolos amarelos para descobrir a outra. Mas se você não conhece a história do Mágico de Oz, a boa notícia é que você não precisa de um ciclone, pois através de um bom livro e lindo filme, você pode facilmente se deliciar com a mágica jornada até a cidade das Esmeraldas.