Normalmente animes são adaptações de outras mídias, como por exemplo, Mangás e Light Novels, e isso não é ruim, mas limita bastante as possibilidades criativas. Existem animações que criam arcos inteiros, com novos personagens, modificando até o final. Porém isso não é uma regra geral. Onde eu quero chegar? Bem, o estúdio que produziu Great Prender também animou Vinland Saga e Attack on Titan, ou seja eles possuem certa experiência em adaptações fiéis e também nas que mudam determinados pontos da obra original afim de enriquecer o material, tal como fizeram no arco político de Attack on Titan. No seu catalogo também existem outras animações originais, mas não sou capaz de opinar já que não vi. Bem, Great Pretender é um anime original que tem a liberdade de fazer basicamente tudo, pois além de original é para um público mais adulto, similar ao Cowboy Bebop, onde a produção se vê livre para finalizar e desenvolver o que bem entender, assim como também em Carole e Tuesday. Agora a pergunta que fica é: O que Great Pretender fez com tudo isso? Bem, falando da história temos uma trama sobre um golpista japonês chamado Makoto Edamura, o auto intitulado maior vigarista do Japão. Após tentar aplicar um golpe num vigarista francês ele se vê dentro de uma trama muito maior, onde acaba sendo recrutado em uma equipe de vigaristas internacionais.
A história é dividida em arcos que contam cada um determinado golpe. Isso é bem interessante e lembra um pouco Cowboy Bebop, tanto na independência dos arcos, quanto na utilização deles como forma de contar o passado dos personagens. Penso que seria sacanagem dizer que Great Pretender é simplesmente uma mistura de Cowboy Bebop, pela estética e rumo das aventuras, com Lupin III pelo uso de planos grandes e extravagantes, pois ele tem identidade própria, tanto esteticamente, quanto musicalmente e na história ele desenvolve características próprias. Eu diria que estamos diante de algo com um grande potencial, pois além de instigante e interessante ele é profundo em diversos aspectos. Trazendo diversas discussões muito legais e modernas, como tráfico de drogas, efeitos da guerra, sequestro e contrabando de crianças. O interessante é que os problemas tanto formaram o passado dos personagens e os tornaram quem são, quanto os afetam no presente criando medos e inseguranças.
Me vejo obrigado a citar o cuidado dos criadores para tornar tudo o mais crível possível, mesmo com planos enormes e megalomaníacos. Cada um dos personagens da história vem de uma país e possui uma cultura e idioma diferente, e isso se reflete em vários momentos da narrativa. Infelizmente, isso se perde um pouco, por conta de certos diálogos todos falarem o mesmo idioma, para nós telespectadores, mas dentro da história estão falando idiomas diferentes e quando fazem piada disso certas coisas se perdem. Mas, isso não faz a história perder seu brilho, e penso que a apresentação dos personagens e suas personalidades são muito bem apresentadas e explicadas. Cada aproximação que ocorre entre os personagens é crível e muito interessante, além do humor ser muito bem montado. Fica aqui o destaque para a qualidade da dublagem brasileira que é do mais alto nível, mesmo com essa questão da adaptação não se perde tanto, e realmente adaptar isso sem perder nada é praticamente impossível.
Ricky and Morty já tirou onda das tramas de assaltos e golpes pelas extensas e ridículas explicações, e Great Pretender acaba por cair no estereótipo em certos momentos. Isso faz com que sua atenção não seja voltada a se eles vão resolver o problema ou não, mas em como eles o farão. Eu considero muito importante se ter um senso de perigo nas histórias, aquela impressão de que todo mundo pode morrer e coisas podem dar errado, e Great Pretender diminui isso pela repetição de certas ferramentas narrativas. Isso acontece mais na segunda temporada.
Eu vejo a primeira como bem redondinha, e lá a sensação de poder dar merda é bem grande, enquanto na segunda isso se reduz bastante.
Gostaria de dar destaque a trilha sonora que conta com Queen no encerramento, e uma abertura com um ótimo instrumental, uma referência a Cowboy Bebop creio eu. Fora as músicas cantadas que aparecem no decorrer da série e são espetaculares, em especial a cantada no último arco da primeira temporada.
Como não quero dar spoilers me vejo limitada para analisar mais profundamente, mas consigo dizer com base no que já falei que Great Pretender é um anime mais que acima da média, com alguns deslizes próxima ao fechamento do arco maior, mas ainda assim muito bom. A serie não acabou e atualmente conta com duas temporadas que estão disponíveis no Netflix. Entendo que possa ser uma chatice minha, mas recomendo que assistam no espirito de curtir e ir na onda de uma trama bem exagerada, divertida e mirabolante, para que não se decepcione com certas irrealidades e incoerências. Não posso encerrar sem dizer que várias das discussões que são levantas são muito boas, mas sem dar spoilers é difícil falar sobre. Considero o anime uma ótima pedida para o fim de ano e comentem aí, discordam concordam? Estou sendo cri, cri ou faz sentido?