Com ironia ácida e o senso de humor irreverente até em temas intensos, o livro critica o ”peso do peso” ao abordar a gordofobia. A pré-venda já rendeu à escritora estreante, Vanessa Sap, elogios de autores renomados pelo estilo original, caracterizado pela fusão de linguagem sofisticada e conteúdo algo anárquico. Disfunções sociais e alimentares contrapõem-se em toda a trama, mesclando um português trabalhado à satírica crítica de situações contemporâneas ; o vocabulário não cotidiano flui com desenvoltura no primeiro livro nacional cuja trilha sonora está no Spotify – os capítulos todos foram nomeados com músicas.
A escritora Vanessa Sap afirma que o livro deriva de um ativismo por uma sociedade mais tolerante e sem a pressão sobre o peso alheio. “Quem quiser que fique magro. Muito magro”, comenta a autora ao revelar que esses textos também decorrem de uma das utopias preferidas : seu projeto de aposentadoria. ‘’Quero poder ser gorda. Muito gorda”, diverte-se.
Vanessa Sap arremessa uma pedra no espelho em que a sociedade se enxerga: “gordofobia”, e “classemediofobia” são apenas alguns dos cacos. Segundo a pesquisa feita pelo Grupo Catho, realizada com 31 mil empresários, cerca de 65% dos executivos preferem não contratar pessoas obesas. O estudo revela também que mercado de trabalho paga mais para empregados magros; A cada ponto do IMC equivale a perda de 92 reais por mês. Dados do Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope) apontou também que 92% dos brasileiros afirmam sofrer atos gordofóbicos em seu convívio social.
É nesse cenário, justamente no mês de celebração do Dia do Gordo, que Vanessa Sap pega pesado em sua estreia como escritora. Numa obra que esmiúça o tema em uma perspectiva inédita, intercalam-se risos frutos do humor mordaz à reflexão sobre o impacto da silhueta no dia-a-dia.
A ficção acontece no Centro de Emagrecimento Ingatori durante a semifinal da Copa de 2014. Enquanto os frequentadores testemunham o fiasco histórico do 7 x 1, flashbacks narram suas trajetórias individuais: embora tenham naturezas distintas, todos têm alguma identificação causados pelos quilos a mais e suas dificuldades.
Os nomes dos personagens – que são mais de 50, também com problemas nos tons de cinza – homenageiam artistas plásticos contemporâneos brasileiros que de alguma maneira serviram de inspiração na trajetória da escritora. Seu olhar artístico robusto e particular é refletido diretamente na experiência das páginas; Michel Houellebecq, Luis Fernando Verissimo, Monty Python, Woody Allen, Lucille Ball e Bansky são apenas algumas das influências.
O cenário musical se faz especialmente presente, afinal arte expressa-se em inúmeras formas. Cada capítulo conta uma história, e a respectiva “música- título” fornece o clima daquele relato. O playlist, cujo codigo Spotify está nas primeiras paginas, é diverso e cosmopolita tal como os indivíduos representados: Rimsky-Korsakov , Metallica, Noel Rosa, Infected Mushroom, Mercedes Sosa, Edith Piaf e Sidney Magal, entre muitos outros.
Este formato, em que cada fragmento tem um enredo supostamente autônomo, pode remeter à série americana “Lost”‘. Ao invés porém do mistério se iniciar com a queda do avião, o suspense que une todas as tramas no ‘Temporada 1” surge só no final.
Idioma: Português
Número de páginas: 132 páginas