Cinco motivos para você assistir a série “Watchmen”

Se você não é uma lula gigante pandimensional repentinamente conjurada sobre a cidade de Nova York, você provavelmente já sabe e já assistiu a série da HBO “Watchmen”. A série é uma adaptação da tão cultuada e aclamada HQ de Alan Moore e Dave Gibbons (e neste caso está mais pra homenageada) nas telas do audiovisual.

Ao contrário, porém, das HQs e do filme dirigido pelo Zack Snyder (2009), a série da HBO não conta os clássicos acontecimentos de Dr. Manhattan, Rorschach, Coruja e companhia; ela se passa nos tempos atuais e traz consigo tanto debates pertinentes da sociedade atual quanto resgata fatos históricos e os coloca na mesa.

Se me perguntassem se vale a pena assistir Watchmen minha resposta seria simples: “Vale! Vale Muito!”. Mas se apenas a opinião não for o bastante, eu trago aqui cinco motivos para assistir Watchmen já!

 

1- Visualmente fantástica

A arte dos HQs são reconhecidamente belas e o filme conseguiu trazer este visual para o cinema, muitas vezes conseguindo enquadramentos muito semelhantes à obra original. A série não fica atrás. Da escolha das cores até a execução dos efeitos especiais, Watchmen não perde para qualquer superprodução da HBO.

A direção também precisa ser lembrada. As transições de câmera trazem um toque especial às cenas, fazendo parte do espetáculo e constantemente sendo significativas para a sequência da história. As fantasias usadas pelos vigilantes também trazem um conceito simples porém extremamente eficaz. Facilmente poderiam ter sido feitas por pessoas que precisassem esconder suas identidades, ainda assim não deixam de serem obras do fantasioso. Destaque para a máscara reflexiva do Looking Glass.

2- Importância sociocultural

Nem só de fantasia vive Watchmen. A série também se preocupa em trazer debates extremamente atuais para a pauta. O maior e mais explorado deles é o grupo supremacista branco A Sétima Cavalaria, uma espécie de nova Ku Klux Klan, que aparece como antagonista na história. Ao longo de seus 9 episódios, o roteiro trabalha como o grupo começou a ganhar força, suas reivindicações e como mesmo nos dias de hoje é fácil encontrar quem faça coro a essas ideologias.

Juntamente com a Sétima Cavalaria é exposta a questão racial e dos imigrantes. Qual a responsabilidade do governo para com grupos minoritários que sofreram injustiças históricas? Por que existe o assistencialismo? Até onde a violência é tolerada ou, antes, incentivada? Existe diferença entre policiais, vigilantes e poderes paralelos? Essas e outras questões são levantadas e satisfatoriamente desenvolvidas ao longo da trama.

3- Incidente de Tulsa

O primeiro episódio da série trouxe a tona um incidente real que até hoje é pouco conhecido na história americana, o Massacre de Tulsa. Tulsa era uma cidade no distrito de Greenwood, Oklahoma, que nos anos 1920 era conhecida como a “Wall Street Negra”. No início do século haviam sido descobertos poços de petróleo na região, o que enriqueceu muitos proprietários negros. Nos anos 20, contudo, a segregação racial nos EUA era fortíssima e a segunda KKK estava no auge. Na noite de 31 de maio de 1921, uma multidão ateou fogo a casas e lojas da parte negra da cidade e há relatos de metralhadoras e aviões efetuando disparos sobre os cidadãos. Fontes históricas estimam cerca de 300 mortos e quase 10 mil desabrigados.

É nesta mesma Tulsa que se passa a trama. Até então, pouco se falava deste incidente brutal, mas após a premiere da série choveram tweets espantados sobre o acontecimento. Trazer um tema histórico deste calibre às claras e revelá-lo ao mundo não é pra qualquer um, então ponto para a série!

4- Referências e homenagens

Quando alguém ousa tocar em uma obra acabada para fazer uma prequel ou spin off, sabemos que geralmente não dá certo. Pode ser uma falha monumental ou apenas não fazer jus à obra original, mas dificilmente esperamos algo realmente grandioso. Bom, Watchmen quebra com essa tradição.

A obra funciona muito bem como uma sequência do cânone, trazendo consequências aos acontecimentos dos quadrinhos, mas também funcionando como uma obra independente e, em algumas partes, como uma prequel. Mesmo nesses momentos é extremamente respeitoso, quase venerando a obra original. Por outro lado, ajuda a entender situações que ficaram abertas ou simplesmente não tiveram explicação e enche de significado os menores detalhes.

As referências também são muito visíveis e estão presentes em todos os episódios. Assim como as transições de câmera, muitas vezes funcionam como explicação para a cena, sem a necessidade de palavras.

5- Roteiro impecável

Outro ponto alto da série é o roteiro. Escrita por Damon Lindelof (Lost; The Leftovers), a história em nenhum momento se perde ou atropela nenhum ponto crucial do cânone. Toda a trama parece ter sido detalhadamente planejada e executada para que nada desconstruísse os quadrinhos de Moore, ainda que alguns momentos tragam releituras ou diferentes pontos de vista dos acontecimentos clássicos. Tudo sempre com muita reverência, claro.

O roteiro em si mesmo funciona muito bem, entregando exatamente o necessário para o público, muitas vezes brincando com os plot twists e se preocupando em explicar (as vezes até excessivamente) cada detalhe dos acontecimentos.

O único porém da série, por assim dizer, fica com a cena final. O final é aberto a interpretações, bem ao estilo A Origem. Se você não gosta deste tipo de final, é um pequeno detalhe que pode te deixar querendo mais. Mas se você, como eu, adora finais abertos e ficar criando teorias malucas, bingo! Mais um motivo pra assistir!

No final das contas Watchmen não é apenas mais uma série de heróis, é uma obra-prima, uma superprodução que entregou o que nenhuma série de heróis entregou até hoje: reverência e respeito à obra original, inovação, problematização, consciência histórica e uma experiência visual incrível. Então, já que você não é uma lula gigante pandimensional, vá agora mesmo assistir essa belezura da teledramaturgia mundial!

Watchmen está disponível na plataforma HBO Max!

HBO Max: https://www.hbomax.com/