Ouvimos: “Vera Cruz” novo álbum solo de Edu Falaschi

Edu Falaschi é a voz da abertura de “Os Cavaleiros do Zodíaco – A Saga do Santuário” e por isso conquistou milhares de corações, para si mesmo, para o Almah, seu projeto musical e para a banda que integrou durante muitos anos, o Angra. Considerada por muitos críticos, a maior banda brasileira de Rock de todos os tempos, superando o Sepultura.

Edu Falaschi é um dos nomes mais conhecidos quando se trata de rock, não só no Brasil, o cantor é reconhecido pelo seu talento e intensidade de voz, foi criticado em sua entrada para o Angra, na qual teria que substituir o maestro André Matos. E após sua saída, fãs da banda pedem a Edu, que volte e ocupe seu antigo posto de frontman, mas Edu Falaschi seguiu em frente e agora lança seu terceiro disco solo, comemorando 30 anos de carreira. 

Lançado pela MS Metal Records em 2021 e produzido em novembro de 2020, Vera Cruz é o trabalho mais recente do vocalista, um disco que era muito aguardado, devido alguns problemas na voz que Edu vinha enfrentando e que ele mesmo assumiu dificuldades em cantar com a mesma qualidade de sempre. 

Eis que surge Vera Cruz e antes de qualquer observação musical, é necessário julgar o álbum pela capa, e que belíssima capa. É um disco que conquista a curiosidade e atiça a vontade de ouvir, apenas pela arte inicial, cheio de elementos brasilis, com suavidade e transparência, cativa até o maior crítico, a escutar o trabalho. É uma das mais belas capas de disco que já pude ver em muitos anos de música. O autor da obra é Carlos Fides e está mais do que de parabéns pela arte do álbum. Sem dúvida poderia estar em uma camiseta, quadro e até em um museu.

Os tradicionais agudos e a voz potente, deram lugar a uma cantoria lírica, muito mais suave do que o que estamos acostumados, mas a qualidade e intensidade permanecem, principalmente a autenticidade. Em “crosses” é possível ouvir os famosos gritos, falsetes, notas elevadas de Edu.

Se você é um fã de “Holy Land” do Angra e um adepto do álbum “Angels Cry”, vai gostar do disco. Na composição do trabalho estão simplesmente nomes de peso da história do rock, Edu Falaschi (voz, violões e arranjos), Roberto Barros (guitarra e violão), Diogo Mafra (guitarra), Raphael Dafras (baixo), Aquiles Priester (bateria) e Fabio Laguna (teclados) estão entre os melhores músicos brasileiros. Três deles (Edu, Aquiles e Fabio) fizeram parte de Angra na década de 2000.

Os solos das canções, são longos e levam a história contada, sendo o melhor de “Fire With Fire”, que tem duração de 06min e 39seg. Em algumas vezes durante o disco, o instrumental se sobressai, ocultando a voz de Falaschi. Experimente ouvir em headsets e fones convencionais, pode variar. 

Outro ponto positivo do disco é a brasilidade encontrada na canção “Mirror of Delusion” iniciando com um triângulo, com grande variação durante os 05min e 28seg da faixa. Os cantos indígenas introdutórios são partes essenciais para o enredo do álbum, em “Face off the Storm” a mistura de coral e guitarra, segue os rumos de fechamento para o disco, trazendo aquela onda sonora de uma música mais “calma” e uma bem explosiva. Além do mais, Face off the Storm, conta com os vocais guturais de Max Cavalera, icônico músico brasileiro. 

Max participar com Edu Falaschi, rompe uma barreira que é por muitas vezes, criadas por fãs, que gêneros dentro do Rock não se misturam. A música com uma voz forte e uma afinada, deixa o disco com um ar de responsabilidade em agradar diversos públicos. A águia na canção, junto com a batalha, dá a impressão de estar em um cinema.

E chegamos ao melhor momento desta obra, a última canção. Sem dúvida a melhor música do disco, uma quebra de padrão. Elba Ramalho, ela mesmo, uma das maiores cantoras da história música brasileira, cantando junto a Edu Falaschi, em um dueto inacreditável. “Rainha do Luar” possui 04min e 06seg poéticos. Edu cantando em inglês, Elba Ramalho em português.

Elba Ramalho e Edu Falaschi em Rainha do Luar é pra headbanger chorar emocionado e agradecer pela parceria histórica, mas muitos “trozões” podem não entender que a música evoluiu, o rock precisa disso. Eleita a melhor música do álbum. Tornando “Vera Cruz” o melhor algum de 2021. 

Edu Falaschi foi o próprio produtor, auxiliado por outro grande nome da música, Thiago Bianchi, vocalista do Noturnal. O que é nítido em “Bonfire of the Vanities” a maior balada do disco. Música que a voz de Edu Falaschi mais se destaca, lembrando os áureos tempos. 

Land Ahoy é canção mais longa, tendo 09min e 40seg, dando mais ainda a impressão de um típico disco de Power Metal. O álbum se desenvolve bem, a melhor forma para ser escutado é da tradicional, então esqueça o aleatório. Existe uma história contada no disco:

Ambientado na época das grandes navegações, Vera Cruz tem como ponto de partida a cidade portuguesa de Tomar. Em 1482, uma criança deixada na porta de um convento desperta a curiosidade de todos devido a uma peculiaridade: uma marca de nascença que, séculos antes, foi mencionada em uma misteriosa profecia sobre a extinção da maléfica Ordem da Cruz de Nero.

É a partir dessa característica que a história de Vera Cruz se desdobra e apresenta Jorge, o portador da marca, que cresceu sob os cuidados da igreja e cheio de dúvidas: afinal, que mensagens os pesadelos tão presentes em suas noites querem passar? Prestes a desbravar os mares, Jorge se depara com dilemas sobre sua identidade, missão, amor, amizade e intrigas.

Feita a partir de elementos históricos e de ficção misturados, Vera Cruz é, principalmente, uma história sobre maniqueísmo, relações humanas, amor e ódio. Feito a partir de pesquisas na literatura da época para garantir fidelidade à ambientação do romance, Vera Cruz tem seu ápice em terras brasileiras, com Jorge adulto e integrante da esquadra do mestre da Ordem de Cristo, Pedro Álvares Cabral.

Uma verdadeira batalha em solo brasileiro, entre o bem e o mal, expõe angustias, traições, revelações, honra, bravura e o peso de um grande fardo! Mas será que Jorge está preparado para cumprir a profecia? Freiras, caciques e assassinos

Personagens marcantes e que ajudam Jorge a descobrir sua missão estão presentes por toda história. Irmã Rosa, que resgatou o recém-nascido na porta do convento e foi responsável pela sua criação, Irmã Antonela e Dom Abelardo, que o ajudaram a interpretar seus misteriosos sonhos e visões, Janaína e seu pai, Cacique Piatã , que o acolheu na tribo após uma das tantas tentativas de assassinato provocadas pelo famigerado Homem da Cicatriz, a mando do cruel Bispo Negro, são responsáveis por trazer profundidade e dinamismo à narrativa.

Sobre Klaus Simões 455 artigos
Jornalista pela FIAM, Técnico em Comunicação Visual pela Etec de São Paulo, especialista em coberturas de eventos, esportivas e musicais, geek e alternativo. Responsável pelo NEXP Podcast.