Movimento britânico foi responsável por revelar bandas como The Who e The Jam.
Iniciamos hoje a Semana do Rock no NEXP. De 11 a 17 de julho, iremos produzir conteúdos exclusivamente dedicados a este, que mais do que um gênero musical, é um estilo de vida.
Pra começar essa semana especial, iremos contar a história dos Mods, subcultura surgida na década de 1960. Apesar de não ser tão conhecido aqui no Brasil, o movimento é um dos mais importantes e interessantes da história do rock. Confira!
Contexto histórico
Os Mods surgiram em Londres no final dos anos 50, atingindo grande popularidade na década seguinte. De um modo geral, a tribo urbana era formada por jovens de classe média, que usava ternos bem cortados e eram ligados nos sons que rolavam do outro lado do Atlântico, especificamente jazz, R&B e ska jamaicano.
Os points dessa galera eram pubs e seus rivais eram os Rockers, que tinham forte ligação com o rockabilly, usavam topetes e se locomoviam por meio de motocicletas. Lembrando que os Mods usavam scooters e vespas como meio de transporte, já que as lambretas, além de baratas, eram uma ótima opção, já que o transporte público londrino não funcionava durante a madrugada.
Bandas
A banda mais conhecida desse movimento é o The Who, um dos maiores grupos de rock de todos os tempos. Surgido em 1964 – época em que os Beatles e os Rolling Stones já estavam fazendo sucesso -, o quarteto formado por Roger Daltrey (voz), Pete Townshend (guitarra), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) é responsável pelos principais hinos dessa geração, como “My Generation”, “I Can’t Explain” e “The Kids Are Alright”.
Os dois primeiros álbuns do Who, “My Generation” (1965) e “A Quick One” (1966) possuem forte influência de soul, rhythm and blues e até surf music. A partir de “The Who Sell Out” (1967), a banda buscou referências psicodélicas e posteriormente, popularizaram o termo ópera rock com os discos “Tommy” (1969) e “Quadrophenia” (1973). Esse último, conta a história dos mods pela ótica de Pete ambas tornaram-se filmes na década de 1970, obtendo grande sucesso. A banda segue em atividade até os dias atuais, sob a liderança Daltrey e Townshend, tendo feito shows históricos no Brasil em 2017 e um ótimo álbum, intitulado simplesmente “WHO”, lançado no final de 2019.
Os outros conjuntos responsáveis pela difusão da cultura mod são o The Kinks, que entraram pra história da música com o hit “You Really Got Me”, regravada pelo Van Halen nos anos 70, The Yardbirds, que teve como guitarristas Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, e os Small Faces, que gerou duas bandas na década seguinte: os Faces, que tinham Rod Stewart e Ronnie Wood em sua formação, e o Humble Pie, liderado pelo vocalista Steve Mariott, com Peter Frampton na guitarra solo. Também tiveram bandas menos conhecidas como The Action e The Creation.
Declínio e “revival” em meio ao punk
Na segunda metade dos anos 60, o surgimento da cultura hippie e a evolução musical por meio da psicodelia afastaram as bandas e os jovens do movimento. Ao mesmo tempo, os mods mais agressivos rasparam seus cabelos e deram origem aos primeiros skinheads.
Já nos anos 70, em meio ao movimento punk, surgia um outro grupo, influenciado pelos nomes já citados, o The Jam. Liderados pelo vocalista, guitarrista e compositor Paul Weller, a banda foi responsável pelo chamado “mod revival”, tanto na sonoridade quanto na estética. Eles se apresentavam bem vestidos e mesclavam as tendências da época (punk e new wave) com a sonoridade dos anos 60. O Jam lançou seis ótimos discos e se separou em 1982, quando Paul formou o The Style Council. Hoje ele está em uma carreira solo bem sucedida, sendo um nome influente para outras gerações.
O filme Quadrophenia (1979), inspirado na ópera rock do The Who, também foi importante ao popularizar novamente a cultura mod. A continuação do longa, intitulada To Be Someone, foi lançada em 9 de agosto de 2021.
E no Brasil?
Os conceitos mods demoraram bastante para chegar ao Brasil. Graças ao sucesso do The Jam, algumas bandas tiveram acesso ao movimento. O caso mais notório é o Ira!, formado em 1981 por Nasi (voz) e Edgard Scandurra (voz e guitarra). A banda paulistana surgiu com sonoridade mais puxada para o punk/pós-punk, sob influência de The Clash e Gang of Four. Nessa época, eles contavam com o baterista Charles Gavin, que viria fazer parte dos Titãs pouco tempo depois.
Em 1985, já com André Jung (bateria) e Ricardo Gaspa (baixo), o grupo aderiu ao estilo definitivamente. Os álbuns “Mudança de Comportamento” (1985) e “Vivendo e Não Aprendendo” (1986) são permeados pela estética sessentista que havia influenciado o trio inglês de Paul Weller quase dez anos antes. Nos discos seguintes, a banda buscou outros caminhos, mas continuou flertando com a vertente, influenciando outros artistas.
Um dos nomes influenciados pelo Ira! é a banda curitibana Relespública, surgida em 1989. Formado por Fábio Elias (voz e guitarra), Emanuel Moon (bateria) e Ricardo Bastos (baixo e vocais), o grupo traz o rock de garagem no sangue, tendo como grande destaque o álbum “As Histórias São Iguais”, lançado em 2003. Recentemente, o trio gravou um EP intitulado “Sem Ninguém Ao Lado”, incluindo a faixa “Mods Are Back Again”. O videoclipe da música está com mais de 68 mil acessos no YouTube.
Outro destaque nacional é a Cachorro Grande. Formada em 1999, o grupo se destacou no cenário alternativo nacional, atingindo um público maior em meados dos anos 2000. Os três primeiros discos do quinteto têm como referência Beatles, Stones, Who e todas as bandas britânicas surgidas na década de 1960. Com o álbum “Pista Livre” (2005), a banda ficou nacionalmente conhecida, com músicas tocadas nas rádios rock e videoclipes em alta rotatividade na MTV Brasil. A partir de “Todos os Tempos” (2007), buscaram outras sonoridades, mas sem deixar os “anos 60” de lado. A banda encerrou suas atividades em 2019, deixando saudade em muitos roqueiros brasileiros.
Nosso país também gerou outras bandas e artistas do gênero como Cláudio Fontes, Faces e Fases, The Charts, Laboratório SP, Faichecleres, Reino Fungi, Dissonantes e Banzé, que se destacaram no underground entre os anos 80 e 2000.
Legado
O Mod sobrevive como uma cultura retrô na Inglaterra, tendo lojas especializadas em roupas pertencentes ao estilo. Artistas do britpop, como Oasis, Supregrass e Ocean Colour Scene tiveram influência do movimento e bandas mais recentes como The Strypes e The Nude Party também beberam dessa fonte.
No Brasil, a Scooteria Paulista era o grande ponto de encontro dos mods brasileiros. O bar, que era localizado no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, esteve aberto entre 2010 e 2019. Musicalmente, bandas como Modulares e The Targets vêm se destacando na cena alternativa. Portanto, ouça e prestigie o trabalho desses novos artistas, que mantém a chama acesa. Mods are back again!