Dando sequência na série de grandes discos do ano de 1991, trazemos hoje discos de nomes nacionais e internacionais que se destacaram nos anos 80, mas que enxergaram a necessidade de se reinventar no início da década seguinte, gerando trabalhos consistentes. Alguns obtiveram rápido sucesso, outros foram mal recebidos pela crítica e demoraram um bom tempo para obter o reconhecimento merecido.
U2 – “Achtung Baby”
Apostando em sonoridades diferentes após o elogiadíssimo The Joshua Tree (1987) e o pouco inspirado Rattle and Hum (1988), o U2 chegava aos anos 90 querendo se reinventar. Um tanto inseguros e passando por problemas internos, a banda costumava ouvir artistas surgidos na época como Nine Inch Nails e My Bloody Valentine, além de buscarem um flerte com a música eletrônica e experimental.
Com a produção de Brian Eno e Daniel Lanois, Achtung Baby começou a ser gravado em outubro de 1990, no Hansa Studios, na capital alemã, um ano após a queda do Muro de Berlim. Porém o estágio inicial não foi nada produtivo. O vocalista Bono e o guitarrista The Edge eram favoráveis ao direcionamento eletrônico. Já o baterista Larry Mullen Jr. sonhava gravar um disco de rock clássico, inspirado em Blind Faith, Cream e Jimi Hendrix. Enquanto o baixista Adam Clayton preferia continuar com a sonoridade dos trabalhos anteriores. Além de terem tido algumas fitas roubadas no decorrer do processo e o fato de estarem gravando em uma sala que havia pertencido à Schutzstaffel (SS), organização ligada ao Partido Nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1938-1945).
Após a composição da música “One”, o maior hit do disco, que os trabalhos começaram a fluir de melhor forma. As influências eletrônicas já estão presentes em faixas como “Zoo Station”, nas experimentais “Mysterious Ways”, “Love Is Blindness” e “The Fly” e em músicas mais pops como “Even Better Than the Real Thing” e “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses”, que apresenta ótimos efeitos de guitarra criados por The Edge. Destaque também para “Ultra Violet (Light My Way)”, que apresenta algumas experimentações, mas remete ao U2 dos tempos de Joshua Tree.
Achtung Baby se tornou o segundo álbum mais bem sucedido da banda, com 25 milhões de cópias vendidas em todo o mundo e está presente em diversas listas de melhores álbuns de todos os tempos.
My Bloody Valentine – “Loveless”
Gravado durante dois anos e meio com o custo de produção estimado em 250 mil libras, Loveless, segundo álbum da banda irlandesa My Bloody Valentine, revolucionou o conceito de técnicas de guitarras, utilizando vibrato, novos sistemas de afinação e a técnica “glide guitar” (guitarra deslizante em português), desenvolvida por Kevin Shields, líder da banda.
Marco dentro do gênero shoegaze (vertente do Indie Rock surgida no final dos anos 80), o disco foi bem recebido pela crítica, tendo recebido elogios de nomes como Brian Eno, Robert Smith, líder do The Cure e Billy Corgan, vocalista do Smashing Pumpkins.
Em Loveless, novos conceitos da guitarra unem-se a vocais melódicos. Exemplos estão em faixas como “Only Shallow”, “Loomer”, “To Here Knows When”, a acústica “Sometimes” e “Soon”, principal hit do disco. Destaque também para “When You Sleep” e “Come In Alone”, outros grandes momentos do trabalho.
Primal Scream – “Screamadélica”
Considerado um dos 50 melhores álbuns de todos os tempos pelo The Guardian e pela revista The Wire Magazine, Scremadélica, segundo álbum do Primal Scream, foi um dos discos que soube unir o house e o tecno com o rock britânico, sendo um dos trabalhos que sedimentou a sonoridade da música dos anos 90.
Com influências de soul e blues, o disco apresenta um repertório irretocável, tendo grandes momentos como “Movin’ On Up”, a eletrônica “Don’t Fight It, Feel It”, “Come Together” e “Loaded”, que estourou nas pistas de toda a Europa ainda em 1990.
O disco recebeu o Mercury Prize (premiação britânica realizada até 2016) de melhor álbum em 1992.
Os Paralamas do Sucesso – “Os Grãos”
Após navegarem por uma sonoridade “brasileira”, misturando o rock com elementos da música jamaicana, caribenha e baiana durante os álbuns Selvagem? (1986), Bora-Bora (1988) e Big Bang (1989), Os Paralamas do Sucesso buscavam outros caminhos musicais no início dos anos 90.
Com forte reconhecimento em alguns países da América Latina, especialmente na Argentina, a banda lança Os Grãos, que traz arranjos ricos em teclados, pianos e riffs de guitarra. “A Outra Rota”, “O Rouxinol e a Rosa”, “Trinta Anos” e “Ah! Maria” são algumas das canções que apresentam essas características. Músicas como “Carro Velho” (com participação de Carlinhos Brown), “Os Grãos” e “Sábado” remetem aos trabalhos antigos da banda.
O álbum vendeu menos em relação aos trabalhos anteriores e não foi bem recebido pela crítica na época, porém deixou dois grandes hits, “Tendo a Lua” e “Trac Trac”, versão da música do cantor e compositor argentino Fito Paez. O disco teve a produção de Liminha, Carlos Savalla e Herbert Vianna, que utilizou o pseudônimo “Teabag V”.
Titãs – “Tudo ao Mesmo Tempo Agora”
Vindos de uma sequência de trabalhos bem sucedidos junto ao produtor musical Liminha, os Titãs partem para uma auto produção, criando um disco cru e barulhento. Essa somatória gerou Tudo ao Mesmo Tempo Agora, sexto álbum do então octeto paulistano.
As composições são todas assinadas em conjunto, trazendo letras agressivas, algumas escatológicas, porém geniais como “Uma Coisa de Cada Vez”, “O Fácil é o Certo”, “Eu Vezes Eu” e “Agora” (regravada por Maria Bethânia). Destaque para “Saia de Mim” (primeiro single do disco), “Clitóris”, “Eu Não Sei Fazer Música”, “Não é Por Não Falar” e “Isso Para Mim É Perfume”.
Massacrado pela crítica, o álbum só obteve o reconhecimento merecido ao longo dos anos, com o apoio dos fãs, já que a própria banda parece ignorar o repertório do disco em seus shows. Foi o último trabalho com a presença de Arnaldo Antunes, que deixou o grupo durante a pré-produção do álbum subsequente, Titanomaquia, lançado em 1993.
Na próxima semana, voltamos com mais um texto, contendo outros cinco trabalhos lançados em 1991.
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