Resenha: Raya e o último dragão

“Raya e o último dragão” é a mais recente animação da Disney, lançada em março de 2021 no serviço de streaming Disney+. No primeiro mês, o filme exigia um pagamento de R$ 69,90, fora o já feito pela assinatura,  porém um mês depois lançaram o filme de forma aberta ao público geral assinante do serviço. Formou-se certa polêmica por conta desse método de lançamento, mas aparentemente se tornou um padrão no serviço da Disney, e essa discussão acabou por ofuscar em parte o filme em si.

A história se passa no continente fictício de Kumandra, um lugar onde dragões e humanos viviam em paz. Mas quando uma força maligna ameaça a harmonia, os dragões sacrificaram suas vidas para proteger a humanidade. Agora, 500 anos depois, o mesmo mal ressurge e cabe a uma guerreira solitária, Raya, encontrar o último dragão e tentar restaurar harmonia.

A animação tem um enfoque infantil e cria locais e culturas variadas para demonstrar o contraste na relação dos povos. Após o desaparecimento dos dragões, formaram-se cinco países que brigam entre si pelo último pingo de magia de dragão. Quando o Pai de Ray convida os outros povos em busca de paz e após uma traição, o mal contido pelos dragões é libertado. Essa briga retrata uma natureza humana e a história “brinca” com os conflitos que existem nesse mundo, onde mesmo todos próximos do fim da humanidade, ainda assim se preocupam com as migalhas. Para isso, a animação desenvolve um mundo pequeno e muito contido para conseguir apresentar cada um dos povos sem se perder muito. Porém, isso limita um mundo belo e aparentemente rico em detalhes. Nessa circunstância, necessitou-se optar pelo desenvolvimento da história em relação ao mundo.

Toda história gira em torno de um evento inicial que marca a protagonista e suas ações seguintes são embasadas nessa dor. Para mim, a personagem é forte, carismática e verossímil. O que enriquece ainda mais Raya é o fato de ela não ser apenas ensinada durante a aventura, mas também ensinar. O interessante da animação é que ela não apela a um maniqueísmo barato, fazendo com o que a aposta que é feita no clímax seja coerente com o desenvolvimento da protagonista e a mensagem faça sentido.

Os personagens que a acompanham na jornada chamam atenção por sua variação e motivações. Os personagens em si não são ruins, porém como o filme tenta criar e explorar um mundo inteiro em pouco menos de duas horas, vemos que alguns personagens não têm seu potencial aproveitado. Como de praxe, existem personagens voltados a parte cômica do filme, porém, em relação a outros personagens já criados pela produtora, estes são fracos e às vezes quebram a imersão nesse mundo que é mais melancólico e reflexivo.

O design dos personagens, a mensagem e todo o mundo criado é interessante, mas sinto que o filme tenta abraçar coisas demais e se perde dentro de si, desperdiçando personagens que mereceriam mais tempo e gastando energia com personagens particularmente dispensáveis. Acredito que “Raya e o último dragão” seja uma ótima animação para crianças e apresenta uma variação cultural interessante, sendo possível notar que é um filme focado no público chinês e, para isso, voltaram à criação do mundo nos mitos chineses, e esse contato é muito interessante. Na minha opinião, quando crianças conhecem mais sobre culturas distantes da própria, isso desenvolve sua criatividade e abertura para conhecer e entender o mundo.

Raya e o último dragão é uma ótima animação que perde parte de seu potencial, mas possui um brilho próprio por indicar uma mudança de rumos pretendida pela Disney, então fica a recomendação. Você o encontra disponível para assistir no Disney+.

Sobre Victor Nerd 101 70 artigos
Nascido em São Paulo/SP, tem 20 anos e coleciona quadrinhos há quase 10 anos, possuindo uma coleção gigantesca, aficionado desde sempre pelo setor. Atualmente cursa a faculdade de direito e realiza pesquisa em filosofia do direito, além de ser colaborador no NEXP, participar de podcasts e apresentar o programa Angústia Nerd.