Para Wong Foo, Obrigada por tudo, Julie Newmar: Filme para você adicionar ao seu “currículo nerd”

Antes de começar a ler esse artigo, tenha em mente uma coisa: “Para Wong Foo” é um filme de 1995, onde os caminhos para discussão dos papéis LGBTQ+ ainda estão sendo abertos no cinema. Evidentemente que se falássemos de um filme da década atual, ou até mesmo da anterior, seria imprescindível questionar “por que atrizes Drag Queens não tiveram a oportunidade de interpretar personagens Drag Queens?” Ou ainda, “por que atores heterossexuais estão interpretando papéis LGBTQ+, enquanto os para os próprios LGBTQ+ não recebem tantas oportunidades?” São questionamentos legítimos e que ressaltam as dificuldades na carreira de LGBTQ+ no cinema e na TV, mas na década de 90, esse tema era escassamente discutido…

Talvez por isso essa produção tenha sua importância para trazer luz ao tema: o universo artístico é feito de diversas áreas e uma delas é a arte performática das Drag Queens. Assim como sua prima mais conhecida, “Priscilla, Rainha do Deserto”, “Para Wong Foo, Obrigado Por Tudo! Julie Newmar” apresentou para os apreciadores da 7º arte de diversas partes do mundo as drag queens, tornando-se precursor de outras produções sobre o tema, incluindo o bem-sucedido do reality show de RuPaul. Falando nela, Ru faz uma participação no filme como Rachel Tension uma Drag Queen vencedora de concurso passando sua coroa.

E já que estamos falando do filme como objeto de reflexão sobre sexualidade e diversidade sexual, como podemos chamar o filme de transgressor de padrões? Wong Foo pega Patrick Swayze e Wesley Snipes dois símbolos de masculinidade em Hollywood e os coloca como drag queens. Se aqui o filme da década de 90 peca em trazer LGBTQ+ para papéis LGBTQ+, ele dá outro recado: os padrões de masculinidade da época que se preparem para ser totalmente subvertidos.

Após vencerem uma competição em Nova York, Noxeema Jackson (Snipes) e Vida Boheme (Swayze) se qualificam para a Drag Queen of America, em Hollywood. Então junta-se a dupla uma terceira concorrente, a ingênua Chi Chi Rodriguez (John Leguizamo) e as três seguem para Hollywood em uma viagem pela estrada com um Cadillac conversível. Porém, diferente das grandes cidades em que o estilo de vida delas é aceito, na pequena e interiorana cidade de Snydersville, o negócio é bem diferente. Mas é justamente lá que o carro das garotas quebra e elas precisam vencer não apenas a resistência inicial de seus moradores, como também se impor diante da postura homofóbica e racista do xerife Dollard (Chris Penn).

O filme apresenta esse novo olhar sobre as Drag Queens daquele momento e também o seu ofício, performance e montagem, sem deixar de lado suas vidas pessoais, como elas se sentiam diante dos concursos, por exemplo, e abordando também seus traumas e o preconceito sofrido.

E caso você esteja se perguntando, afinal quem eram Wong Foo e Julie Newmar? Eu conto: Wong Foo, era um atendente do restaurante China Bowl que ficava na Broadway, cujas paredes do eram decoradas com fotos de estrelas do cinema que passaram por lá. Infelizmente ele fechou em 1993. E Julie Newmar era uma atriz de Hollywood que fez muito sucesso nos anos 50 e 60, muito lembrada por seu papel como Mulher-Gato na série clássica do Batman entre 1966 e 1977. Julie passou pelo set de filmagens de “Para Wong Foo” e acabou fazendo uma ponta no filme.

Além de Julie, quem também fez uma rápida participação foi o ator Robin Williams, que nos deixou em 2014. O saudoso Patrick Swayze foi bastante elogiado por sua performance como Vida Boheme e esteve aqui no Brasil na época do lançamento para fazer a divulgação.

Então não deixe de acrescentar ao seu currículo nerd esse filme leve e aconchegante, que à sua maneira e dentro das possibilidades da época, levou para os meados da década de 90 a discussão de pautas importantes sociais. E depois de ver esse filme, se você for a algum restaurante popular e encontrar a foto de seu artista preferido pendurada em uma das paredes, já sabe o que fazer…