O filme “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin, conta a história de diferentes grupos contrários à Guerra do Vietnã que se reuniram em um grande protesto em Chicago.
Ambientado em 1968, o início da trama fala sobre as manifestações que movimentaram os Estados Unidos durante a Convenção Nacional Democrata, momento no qual foi anunciada a candidatura de Hubert H. Humphrey à presidência americana.
O ano foi marcado por momentos intensos. Além do anúncio do candidato Humphrey, fatos como a morte de Martin Luther King, o assassinato do presidente Robert F. Kennedy e a intensificação da luta pelos direitos civis mexeram com o país.
Com a instabilidade no Governo, aumentava a pressão para a retirada das tropas americanas da Guerra do Vietnã. Durante os dias de protestos, inicialmente pacíficos, a situação começou a sair do controle após confrontos violentos entre manifestantes, policiais e a Guarda Nacional dos EUA.
Com o tumulto e a desordem na capital, o Estado precisava punir alguém. Como consequência, um seleto grupo de oito pessoas ― posteriormente sete ― foi acusado de conspiração e incitação à revolta em um julgamento que entrou para a história do país.
As audiências, que duraram cerca de cinco meses, foram marcadas por uma intensa cobertura por parte da imprensa. Com o slogan “o mundo inteiro está assistindo”, diversos canais se posicionaram a favor da absolvição dos acusados.
O processo começou com oito acusados, eram eles: Abbie Hoffman, Jerry Rubin, David Dellinger, Tom Hayden, Rennie Davis, John Froines, Lee Weiner e Bobby Seale. No entanto, Seale acabou sendo julgado separado do grupo.
As primeiras cenas do filme conseguem trazer em poucos minutos um belíssimo retrato dos personagens e da instabilidade social que gerou esse momento tão importante para a história. Com cenas rápidas e cortes estratégicos, o diretor Sorkin utiliza da continuidade para apresentar os envolvidos, onde um personagem termina a fala de outro.
Essa técnica, há algum tempo inexplorada nas grandes produções, é chamada de “raccords”. Desse maneira, o diretor consegue criar uma conexão entre os acusados.
Com a introdução dos ativistas realizada, Sorkin caminha para o julgamento do caso recorrendo às cenas de flashbacks que mostram como cada um dos eventos levou aqueles homens à corte.
A utilização de uma terceira técnica traz um maior toque de realidade para o drama: A mistura de cenas reais ― buscadas em arquivos ― com as gravações do filme são inseridas em momentos estratégicos a partir do meio do longa.
Assim como na história real, quando o prefeito de Chicago à época, Richard J. Daley, ordenou aos policiais que atiram para matar contra os manifestantes que demonstrassem agressividade. No filme, há uma cena na qual os policiais tiram seus crachás de identificação antes de cometer atos violentos contra os presentes no protesto.
A trilha sonora do longa também faz toda a diferença. Comandada por Daniel Pemberton, o som ambiente fica mais acentuado à medida que os integrantes da “quadrilha da conspiração” vão crescendo dentro de suas histórias pessoais e da coletiva.
Com um forte objetivo de emocionar e prender o leitor em sua narrativa, Skorin vale-se muito de licenças poéticas que potencializam o efeito dramático. Uma delas é a data de lançamento do filme, que chegou ao público em 20 de setembro de 2020, pouco antes das eleições dos EUA que percorreram por dias e deixaram a nação americana e toda a política mundial aflita, decretando Joe Biden como o 46° presidente norte-americano.
Pensado cena a cena, o roteiro do filme demorou 10 anos para ficar pronto. A consequência dessa produção que conta com tantos detalhes que, sozinhos, passam despercebidos, mas que junto engrandecem a obra não poderia ser outra: Seis indicações aos Oscar.
O longa está concorrendo em seis categorias diferentes para a estatueta mais aguardada do ano. Entre as indicações estão: Melhor Filme; Melhor Ator Coadjuvante (Sacha Baron Cohen); Melhor Fotografia; Melhor Montagem; Melhor Canção Original (“Hear My Voice”); Melhor Roteiro Original
Mas, ainda sim, o que mais choca em “Os 7 de Chicago” são as diversas semelhanças que o caso de 1968 têm com as manifestações de 2020 que ficaram conhecidas como “Black Lives Matter”, após a morte de George Floyd por um policial americano que o enforcou com seu joelho por mais de oito minutos.
Os protestos, tanto da década passada como o mais recente, revelam uma história de opressão, racismo e impunidade dos agentes públicos.
Após o episódio com Floyd, milhares de manifestantes foram às ruas em diversas partes do mundo para protestar como a abordagem truculenta da polícia. Mesmo durante a pandemia de coronavírus, as pessoas não deixaram de lutar por aquilo que acreditam.
E assim como nos EUA de 2020, “Os 7 de Chicago” mostra que há gente disposta a lutar por mudanças e construir um mundo mais justo independente da época.
Assista “Os 7 de Chicago”, disponível na Netflix: