Por um lado, sim, a indústria musical realiza seu sonho, te faz ser uma estrela, ganhar muito dinheiro, viajar o mundo e te colocar lá no topo do topo. Por outro, é capaz de ser muito cruel e em questão de segundos, tornar sua vida um pesadelo. São sortudos os que sobrevivem à loucura que é ser famoso, e Britney Spears é uma das artistas que está em constante luta para fugir das prisões que a fama impõe.
Não à toa, milhares de fãs criaram o movimento e subiram a hashtag #FreeBritney, pedindo que a princesa do pop seja livrada das mãos de seu pai, Jamie Spears. A história desse movimento e da cantora são explicados no documentário “Framing Britney Spears”, o sexto episódio da primeira temporada do The New York Times Presents, série do jornal, lançado no começo deste mês e disponível no streaming Hulu. Importante dizer que o documentário não foi autorizado pela artista, apesar de ter sido contatada para participar de sua produção. As informações foram coletadas de pessoas próximas à artistas. [Confira a matéria e o trailer do NY Times aqui]
A carreira da artista começou aos 11 anos de idade, quando conseguiu um papel no Clube do Mickey, o programa da Disney. Aos 16, ela lançou seu primeiro álbum “Baby One More Time” (1999), consagrou hits e prêmios e ganhou o título de “princesa do pop”. Lançou mais álbuns e singles e construiu uma carreira musical esplêndida para alguém tão jovem como ela. Contudo, como o universo hollywoodiano infelizmente tende a fazer com jovens artistas, Britney foi sexualizada e massacrada pela mídia.
A indústria musical pega pesadíssimo com artistas mulheres, invadindo sua privacidade, questionando e criticando tudo, o que não se vê fazendo com artistas homens. Uma das principais situações que mostram esse machismo explícito foi o jeito que os tabloides lidaram com o término de seu namoro com Justin Timberlake em 2002, tratando a artista com total desrespeito. O documentário expõe esse fato e Mary Sollosi, editora-assistente da Entertainment Weekly, aponta que esse com certeza é um dos momentos mais avassaladores do documentário, pois mostra como o cantor “aproveitou-se, sem nenhum esforço, do sexismo latente dos americanos para rapidamente apresentá-la [Britney] como vilã e a si mesmo como vítima (com o videoclipe Cry Me a River como o exemplo mais conhecido, em que uma garota com uma aparência inconfundível de Spears é retratada como a ex-namorada traidora)”.
Britney era julgada em todos os aspectos, como aponta o Splash UOL: era questionada sobre ser uma mãe ruim, por ter sido fotografada com o filho pequeno no colo enquanto dirigia; a maneira como se vestia no palco; o noivado relâmpago com Kevin Federline; o divórcio; a maneira como criava os dois filhos; a briga pela guarda das crianças; o ganho de peso, entre outros. A mídia não poupou nada.
Com o caso da guarda das crianças e o divórcio, em 2007, a cantora decide raspar os cabelos, viralizando fotos suas careca espalhadas por todo canto, o que rendeu memes, humilhação e bullying com a artista. Além disso, Britney também atacou o carro de um fotógrafo com um guarda-chuva: “Não foi uma boa noite para ela. Mas foi uma boa noite para nós, porque fizemos um bom dinheiro”, diz o paparazzo em imagens do documentário.
Como se não bastasse todo o sofrimento, em 2008, as internações em centros de reabilitação e a tentativa de suicídio levaram Britney a ter sua sanidade mental questionada. Assim, o tribunal concedeu ao seu pai, Jamie, a tutela legal sob seus lucros e propriedades. Como consequência, a artista teve seus direitos restringidos, ficando sem a capacidade legal de tomar decisões próprias, com fortuna sob controle do pai e sendo obrigada a pedir consentimento a ele para quase tudo. Por isso o surgimento do movimento #FreeBritney, que ganhou ainda mais força com o documentário do The New York Times.
Aos 39 anos, Britney continua sob a tutela de Jamie e apenas recentemente a artista decidiu abrir ação judicial pedindo a remoção da tutela, conseguindo um pequeno passo: uma audiência realizada na quinta-feira passada, dia 11. A juíza Brenda J. Penny negou o pedido de Jamie de ser o único tutor da artista e decidiu que uma Instituição Bancária terá igual direito aos bens dela. São passos curtos e lentos, mas esperançosos para os fãs e aliados do movimento #FreeBritney e, sem dúvidas, para a princesa do pop.