O Príncipe Dragão é uma série animada lançada em 2018 pela Netflix e criada por Aarton Ehasz (roteirista de alguns episódios de Futurama e criador de Avatar: A lenda de Aang). A história gira em torno de Callum e Ezran, dois príncipes que vivem no reino humano. Certa noite, um grupo de elfos da lua se aproximam de sua cidade para assassinar seu pai, uma forma de vingança pela destruição do lendário ovo do príncipe Dragão. Nesse grupo, uma elfa chamada Rayla fraqueja e deixa um humano escapar. Ele avisa sobre esse ataque e frustra o plano original. Após diversas confusões, é descoberto que o ovo está vivo, e numa aliança inesperada surge. Callum, Ezram e Rayla deverão levar o ovo para sua terra natal e encerrar essa guerra. O problema é que um certo membro do conselho desse reino se intitula regente e deseja que essa guerra não acabe para que a humanidade sobrepuja os seres mágicos.
O príncipe Dragão utiliza uma fórmula que foi a fonte do sucesso de Avatar e da Lenda de Korra: o uso apropriado das motivações. Ninguém é totalmente bom e nem mal, apenas existem origens e visões diferentes. Esse contraste entre as motivações dos personagens é muito bem feito e utilizado no desenvolvimento narrativo, tornando cada personagem único e carismático de uma forma diferente. Admito que durante uma parte razoável da série concordei com o vilão por entender e concordar com suas motivações. O interessante é que a aventura não explora apenas os indivíduos a partir de suas vidas, mas da forma como eles se inserem em sua cultura e isso enriquece muito a história. No decorrer da aventura é apresentado pouco a pouco o desenvolvimento de cada personagem e é muito fácil de comprar cada um dos ideais apresentados. A aventura se desenvolve de um modo muito fluido e consegue superar o problema das aventuras episódicas, onde a aventura tem que durar um episódio ou no máximo dois, tornando de fato essa série uma jornada. Atualmente, estão disponíveis três temporadas, mas cada arco tem um ar de unicidade interessante. Vale lembrar que já foi confirmada a produção de mais quatro para fechar a jornada. E essa sensação de ser uma longa aventura é o que torna a série extremamente divertida.
Os personagens se desenvolvem em ritmos diferentes e tem um entrosamento muito divertido de assistir, e realmente as mensagens da história são épicas e interessantes. É uma boa pedida para assistir com primos, irmãos ou familiares mais novos, mas mesmo como adulto ainda é uma ótima série para assistir.
Algo que faz a série funcionar muito bem é a questão de diversidade cultural, onde os personagens e as questões culturais e históricas são abordadas de um modo muito criativo e interessante, permitindo até reflexões mais profundas, o que torna essa série talvez infantil por sua linguagem, mas nem por isso perde seu valor.
Por ser uma animação voltada a um público mais infantil, existem limitações quanto a um senso de humor, onde em dados momentos forçam a barra para fazer algumas piadas, e isso incomoda por produções anteriores, como Avatar, provarem que o humor não precisa ser forçado nesse sentido, mas isso pode ser um incômodo de alguém que viu Avatar fazendo piadas com maestria, sem apelar para certos pontos caricatos mais “bestas” dos personagens, podendo ser apenas uma dor de cotovelo.
As lutas são legais, além dos cenários, paisagens e o próprio design de personagens. Porém, a animação às vezes perde sua fluidez e trava em dados momentos, o que quebra a imersão nesse mundo de magia. Quanto ao roteiro, a série segue rumos muito interessantes e bem montados, mas, na questão técnica de produção, fica um pouco a desejar, não é nada absurdo, mas tira um pouco da emoção de certos momentos.
No saldo final, é uma ótima série que vale a pena assistir e refletir sobre algumas coisas que são apresentadas pelo roteiro. São três temporadas de nove episódios cada, rapidinho de assistir, é ótimo para se maratonar em um fim de semana qualquer.