‘Monster’ é o mestre do suspense em mangá

Capas editora Conrad e Panini

Monster é um mangá escrito e ilustrado por Naoki Urasawa, originalmente publicado entre 1994 e 2001 na revista “BIG Comic Original” pela editora “Shogakukan”. No Brasil, foi publicado em 18 volumes, sendo 10 pela editora Conrad, que descontinuou a publicação, e depois foi publicado em sua completude pela editora Panini em 18 volumes. A principal diferença entre as edições é que a primeira possuía uma capa preta e a segunda uma capa branca. Em 2019, a editora Panini iniciou a republicação no formato de luxo que foi completa em 2021. Contando com nove volumes, essa edição foi a utilizada para criação dessa resenha.

O mangá acompanha a história de Kenzo Tenma, um brilhante e jovem cirurgião japonês que vive na Alemanha e visa construir uma carreira de sucesso em um grande hospital de Monique. Após um incidente, o médico salva a vida de um importante cantor de ópera ao invés de um operário turco que havia chegado primeiro. Em regra, o atendimento médico deve ser prestado ao que apresentar status de maior perigo. Quando estiverem em igualdade, se preza por quem chegou primeiro, e, nesse caso, haviam omitido dele essa circunstância. Ao ser questionado pela esposa do operário, mesmo sem ter consciência dessa situação, Tenma passa a refletir sobre suas obrigações como médico.

Na noite seguinte, uma criança e um importante político chegam ao hospital. Pela pressão do chefe desse hospital, ele é obrigado a salvar não o paciente que chegou primeiro, mas o político. Pensando na sua ética como médico, ele decide salvar a criança, deixando a vida do político aos cuidados de um médico menos competente. O político faleceu e Tenma é rechaçado pelo diretor do hospital, que retira todo o seu status anterior. Até sua noiva, filha do diretor, o larga, e, a partir disso, Tenma vê uma genial carreira se desfazendo. Porém, ele acredita que optou pelo correto e segue sua vida. Tempos depois, o diretor do hospital e outro membro do alto escalão faleceram repentinamente em circunstâncias misteriosas, e anos se passaram com Tenma assumindo um alto cargo no setor de cirurgias. Tudo desmorona quando se descobre que, na verdade, o diretor anterior fora assassinado pela criança que Tenma salvou anos atrás. A partir disso, o médico passa a questionar se fez o correto, assim se inicia uma jornada para corrigir esse “erro” de seu passado e descobrir porque aquela criança se tornou um “monstro”. 

A história criada por Naoki Urasawa é uma das grandes obras do autor, um suspense instigante que utiliza diversos elementos sociais, culturais e filosóficos para desenvolver a história. O mangaká usa de modo adequado e muito bem construído os eventos pós-queda do muro de Berlim e efeitos do pós-guerra na Alemanha. Vale destacar sua maestria em utilizar todas as polêmicas geradas pelas pesquisas e decisões políticas que violavam os direitos humanos no desenvolvimento durante o governo soviético. Toda a narrativa é construída a partir do resgate desse momento histórico que hoje, quase 30 anos depois, parece bem distante. 

Além dessas questões, o autor ainda pensa sobre as questões culturais do país que sofre influências de um nazismo escondido dentro de diversas camadas sociais, e que influi nos problemas de imigração que afligem diversos pontos da sociedade. A partir disso, é muito bem trabalhado o questionamento quanto a função do médico nessa sociedade e o quanto ele deve considerar essas questões socioculturais. Particularmente, esse é um dos pontos que mais me chama atenção na história, quanto a como o Tenma tem de lidar com a missão de fazer o oposto do que tentou fazer a vida toda: matar, ao invés de salvar. 

Capa “Monster – Parte 3”

Todo o arco é incrível e composto por personagens que enriquecem muito a obra, porém acredito que cada um deles é uma surpresa que merece seu espaço, cada debate e desenvolvimento é genial e interessante. Sempre levando a questão: Somos pessoas mutáveis cuja natureza é mutável ou temos algo mais profundo em nossa natureza que nos torna humanos e não há como modificar ou criar?

Particularmente, esse mangá está no topo da minha lista de favoritos e possui um final agridoce que encerra a história de modo bem coerente com a proposta. Alguns questionam seu significado, mas, para mim, cumpre sua missão e cabe a você, leitor, determinar o que ele significa e se ele é bom a partir disso. 

Monster é uma história que me marcou profundamente, cujas lições e reflexões sempre levarei comigo. Ainda hoje, não cheguei em uma conclusão quanto ao que significa o final em sua completude, sendo essa uma daquelas obras que você precisa reler algum tempo depois para que a experiência fique melhor, geralmente por conta do amadurecimento do leitor. Lembrando que ele recebeu um anime completo em 74 episódios.

Espero que tenham gostado, e até a próxima. 

 

Sobre Victor Nerd 101 70 artigos
Nascido em São Paulo/SP, tem 20 anos e coleciona quadrinhos há quase 10 anos, possuindo uma coleção gigantesca, aficionado desde sempre pelo setor. Atualmente cursa a faculdade de direito e realiza pesquisa em filosofia do direito, além de ser colaborador no NEXP, participar de podcasts e apresentar o programa Angústia Nerd.