Quando a bela e audaciosa ativista Tessa Quayle é encontrada assassinada em uma área remota do Quênia, tudo leva a crer que o principal suspeito do crime, um médico e seu sócio nas causas humanitárias, é também seu amante. Diante da possível infidelidade da esposa, o diplomata britânico Justin Quayle, cujo principal hobby é a jardinagem, decide então partir em busca do que realmente aconteceu, independente das respostas que encontrasse, iniciando uma longa e perigosa viagem.
Quantos geeks brasileiros conhecem a importância essa história? É difícil dar uma resposta precisa, mas vamos começar pelo fato de maior relevância nesse cenário: a direção do filme coube ao nosso compatriota Fernando Meirelles – vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro nas categorias melhor diretor e melhor filme com “Cidade de Deus”. Então vamos falar hoje sobre a tortuosa jornada de Justin Quayle em busca da verdade sob a constante sombra de uma traição de sua amada e brutalmente assassinada esposa. O filme de 2005 é considerado uma fidedigna adaptação do romance homônimo de John le Carré, publicado em 2001. Mas é claro que algumas coisas sempre ficam de fora e por isso vamos começar com as diferenças entre o livro e o filme.
Entre o livro e o filme…
Em seu livro, John Le Carré aponta que a corrupção sempre existiu, traçando um paralelo do que ao mesmo tempo que se tornou mais voraz, passou também a ser identificada mais facilmente com o crescimento da comunicação de massas. Sua obra parte da sociedade moderna como um todo para então colocar uma lente de aumento sobre as instituições dentro da sociedade, governamentais e empresariais, lançando suas críticas pela ação direta dos personagens, seja pelo objetivo de Justin pela verdade e sua conduta coerente e, por muitas vezes, metódica, quanto pelo comportamento inescrupuloso de demais personagens. O sistema familiar ocidental também é brandamente criticado, já que matrimônio e fidelidade são a peça chave dos questionamentos acerca da relação entre Tessa, Justin e Arnold.
Tanto livro quanto filme têm um ritmo um pouco lento, é possível que o leitor/expectador considere o desenrolar cansativo, com a trama demorando um pouco a deslanchar. Isso não chega a ser um ponto negativo para a narrativa, um dos principais objetivos da narrativa de “O Jardineiro Fiel” é demonstrar a ânsia por uma resposta que não é imediata, esse sentimento se traduz na forma como história é conduzida à seu próprio ritmo desacelerado.
Filme e livro não apresentam uma cronologia linear. Por um lado, o filme usa de flash-back, inseridos à primeira vista de forma desavisa, mas que se encaixam tão bem na narrativa, que o espectador não encontra dificuldade em acompanhar a trama. É como se a história fosse contada no ver o desenvolver de uma linha de pensamento. O livro por sua vez apresenta recortes da história que remetem ao passado, personagens contando acontecimentos e documentos apresentados fatos já ocorridos. É igualmente preciso na função de apresentar a trama dessa maneira, encaixando as informações a cada passo.
Fernando Meirelles traduz essa coletânea de pensamentos com seu olhar brilhante na direção do longa. O filme entrega as informações de forma equilibrada, permitindo a livre interpretação em alguns pontos, mas transmite a verdade com precisão nos momentos certos. A sensação é de estar ao lado de Justin enquanto ele persegue a realidade do que aconteceu a Tessa. No filme, os papeis principais cabem a dois renomados atores britânicos: Rachel Weisz (A Múmia) interpreta Tessa e Ralph Finnes (Dragão Vermelho) faz o papel de Justin Quayle. As cenas mostrando a África são executadas de maneira belíssima e emocionante. A iluminação do filme também é impecável. E tudo isso sem perder o foco do descaso com o qual as vidas africanas de comunidades carentes são tratadas. Não apenas a denúncia sobre o uso de pessoas como cobaias inadvertidas pelas indústrias farmacêuticas, mas também a omissão e o assistencialismo barato… Tudo traduzido do livro para o filme com maestria por Meirelles.
Curiosidades sobre o Filme:
Nicole Kidman chegou a ser cotada para interpretar a personagem Tessa, embora a escolha original de Fernando Meirelles fosse Naomi Watts. Além delas, Eva Green, Natalie Portman e Kate Winslet foram outros nomes sugeridos para a personagem, mas o papel coube a Rachel Weisz, que ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante pela sua sensacional performance.
Inicialmente Mike Newell seria o diretor de “O Jardineiro Fiel”, porém deixou o projeto para dirigir “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, só então o filme foi para as mãos do brasileiro Fernando Meirelles, tornando-se sua estreia internacional e seu primeiro filme em língua inglesa.
Se você tiver a oportunidade de ler “O Jardineiro Fiel”, agarre-a. Também assista o filme, que está disponível na Google Play Filmes e TV, Apple TV e Youtube. Com certeza ambas as experiências serão enriquecedoras para todo geek brasileiro! Boa leitura e bom filme!