Essa matéria é uma coletânea de resenhas sobre a série “Gen, Pés Descalços” feita volume a volume. O texto a seguir se refere ao volume 2. Se você ainda não leu o conteúdo anterior sobre a série, sugiro que comece pela resenha do volume 1 antes de prosseguir a leitura.
“Gen Pés Descalços – Volume 2: O trigo é pisoteado”
O segundo volume da série “Gen, Pés Descalços” apresenta logo de início os primeiros efeitos da bomba nuclear que explodiu no céu de Hiroshima – Little Boy, como a bomba era denominada, na realidade foi detonada a mais de 10 mil metros de altura do solo, destruindo tudo em um raio de dois quilômetros – o que ficou conhecido como o primeiro impacto. Os danos causados as pessoas, como queimaduras, estilhaços de vidros impregnados a pele e soterramento em estruturas que sucumbiram a explosão, são mostrados de forma bastante gráfica nas ilustrações do mangá. O desfecho da família de Gen, deixado em aberto no final do volume um, agora é inegável: seu pai, irmã e irmãozinho são consumidos pelas chamas por não conseguirem sair dos escombros de sua casa. A mãe de Gen por pouco não sucumbe a loucura ao ver a trágica perda de seu marido e filhos.
“Depois da bomba, viver se tornou algo mais infernal” – Keiji Nakazawa, autor da série de mangás “Hadashi no Gen”.
⚠️ [O texto a seguir contém spoilers] ⚠️
Gen mantém seu espírito forte e otimista, ajudando sua mãe a voltar à sanidade. No entanto, as atribulações de mãe e filho estão apenas começando, pois Kimie logo entra em trabalho de parto. E pouco depois de ajudar a trazer sua nova irmãzinha ao mundo, Gen precisa seguir em busca de comida, para que a bebê e sua debilitada mãe não morram de fome. Nesse momento o mangá aborda o segundo impacto: os efeitos da radiação começam a se manifestar nas pessoas e até mesmo Gen, que sofre queda de cabelo, náusea e vômito, enquanto outras pessoas chegam a apresentar vermelhidão e queimaduras que surgem por toda a pele, febre, hemorragia e até mesmo sintomas similares a difteria.
O autor também expressa sua segunda crítica à sociedade japonesa da época, a medida que as privações sofridas pela população do Japão ganham dimensões ainda mais terríveis, pessoas e famílias tão devastadas pela fome tornaram-se egoístas e violentas na busca por comida ou na proteção dos alimentos que possuem, totalmente indispostas a compartilhar. Mesmo nesse cenário, Gen continua determinado a sobreviver e a ajudar não só sua mãe e irmãzinha recém-nascida, mas também estranhos que surgem em jornada, como a Natsue, uma menina que sonhava em se tornar uma Shirabyōshi – dançaria tradicional da cultura japonesa – mas agora se vê obrigada a abandonar tal sonho, depois que seu rosto sofreu graves queimaduras.
A saga de Gen continua para fora da cidade de Hiroshima, a caminho da cidade de Eba, onde a mãe de Gen possui uma amiga de infância, a quem pretende pedir abrigo por algum tempo. Porém as condições não se mostram muito hospitaleiras e mais uma vez o destino de Gen, sua mãe Kimie e sua irmãzinha recém-nascida Tomoko se torna uma grande incerteza.
O encerramento do segundo volume brasileiro do mangá “Gen, Pés Descalços” traz um texto que foi originalmente o posfácio da edição japonesa de 1975 e foi escrito pelo jornalista Takashi Yokota, narrando sua saga para transformar a obra de Nakazawa em uma grande publicação japonesa, o que lhe rendeu encontros memoráveis com o autor. Yokota também descreve um pouco do processo de evolução da publicação, que começou encantando o público juvenil até se consagrar entre o público adulto.
As resenhas dos volumes de “Gen, Pés Descalços” saem na segunda quarta-feira de cada mês. Nos vemos dia 13 de julho, com a resenha do volume 3: “Trigo, é Hora de Brotar”. Continue acompanhando e até lá!