CZW: Conheça a controversa empresa de luta livre Combat Zone Wrestling

A CZW foi fundada em 1999 por John Zandig em Nova Jersey, EUA. A promoção rapidamente preencheu o espaço deixado pela ECW (Extreme Championship Wrestling), que havia encerrado suas atividades. A CZW se estabeleceu como a líder do wrestling hardcore, atraindo fãs com um estilo de luta que incluía o uso de objetos extremos como tubos de luz, arame farpado, tachinhas, fogo e vidro.

Antes da CZW precisamos entender o que era a ECW

A ECW (Extreme Championship Wrestling) foi uma das promoções de wrestling mais influentes e revolucionárias dos anos 90. Fundada por Tod Gordon, a empresa tornou-se um fenômeno cultural sob a liderança criativa de Paul Heyman, que assumiu o controle em 1993 e a transformou na ECW que conhecemos. 

Operando de 1992 até 2001, a ECW ficou conhecida por desafiar as convenções do wrestling da época, focando em um estilo mais realista, agressivo e com lutas em que a violência era permitida e até incentivada, o que lhe rendeu o apelido de “wrestling extremo”.

Diferente das grandes empresas como WWE e WCW, a ECW não tinha medo de usar mesas, cadeiras e até arame farpado nas lutas. A violência era um elemento crucial, mas o verdadeiro destaque da ECW era o seu talento e o foco nas histórias emocionais e complexas, muitas vezes explorando a linha tênue entre o heel e o face. 

Nomes como Sabu, Rob Van Dam, Sandman, Taz e, claro, o lendário Raven se tornaram ícones do movimento extremo, criando uma base de fãs extremamente leal e que se sentia parte da “revolução” do wrestling. Embora fosse uma empresa menor, a ECW influenciou diretamente o estilo e a produção do wrestling mainstream, com a WWE e a WCW adotando elementos do seu estilo extremo.

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Surge a CZW, a Combat Zone Wrestling

A biografia de Zandig é a própria história da CZW. Ele não era apenas o proprietário e promotor, mas o principal lutador da empresa, conhecido por sua disposição em participar dos spots mais perigosos e violentos. Sua filosofia de que “o wrestling precisava ser real novamente” se tornou o lema da promoção.

Inicialmente, os shows aconteciam em locais pequenos e de pouca visibilidade, muitas vezes em áreas com regulamentação mais flexível, como Delaware. Isso permitiu à CZW operar fora do escrutínio das comissões atléticas, o que era essencial para a prática do wrestling “ultraviolento” que eles promoviam. A empresa se tornou um lar para lutadores que, assim como Zandig, queriam provar sua resistência e coragem, e rapidamente conquistou uma base de fãs sedenta por esse tipo de espetáculo brutal.

Como a CZW ficou famosa?

A CZW conquistou sua popularidade de uma forma muito particular, construindo uma base de fãs extremamente leal. Destacando uma era sem redes sociais e com uma internet não polarizada, com o Youtube engatinhando em ideia, a CZW criou vínculo com seus fãs pela tradicional indicação.

Marketing “Outlaw” e de Nicho: A CZW capitalizou em sua imagem de “fora-da-lei”. Eles operavam em locais menores e, muitas vezes, sem a regulamentação das comissões atléticas, o que lhes dava uma aura de rebeldia. A popularidade crescia através de vídeos de lutas espalhados pela internet e do boca a boca entre comunidades de fãs, criando uma lealdade quase cult.

CZW e seus talentos carismáticos

A CZW era uma vitrine para talentos que não se encaixavam no molde de grandes empresas. Lutadores como Nick Gage e Sabu (que também lutou na ECW) se tornaram ícones do estilo, e a disposição deles em arriscar tudo criou uma conexão forte com o público. Muitos desses lutadores, como Jon Moxley (conhecido como Dean Ambrose), ganharam experiência na CZW antes de se tornarem estrelas mundiais, o que elevou o perfil da promoção ao longo dos anos.

Claudio Castagnoli (AEW, conhecido como Cesaro na WWE), Adam Cole (AEW) e até CM Punk fizeram parte da CZW. Embora CM Punk não tenha participado das lutas violentas.

Polêmicas envolvendo a CZW

O evento mais famoso da CZW é o Cage of Death, que acontece no final do ano. Trata-se de uma luta em uma jaula de aço com diversos objetos e estipulações extremas, como paredes eletrificadas, vidro e arame farpado. 

As lutas frequentemente incluíam o uso de objetos perigosos e que causavam ferimentos reais, como:

  • Tubos de luz fluorescente: Quebravam ao contato, espalhando cacos de vidro e causando cortes profundos.
  • Arame farpado e painéis de vidro: Usados para “spots” de grande impacto que resultavam em sangramento pesado e riscos de lacerações sérias.
  • Fogo e outros objetos incendiários: Utilizados em lutas, elevando o perigo a níveis extremos.
  • Tachinhas e martelos: Espalhados pelo ringue para causar dor e ferimentos.

Esse estilo gerou uma série de críticas por ser considerado perigoso, irresponsável e excessivamente gráfico, indo muito além da “violência” do wrestling tradicional.

CZW enfrenta sérias proibições

A principal forma de proibição enfrentada pela CZW vinha das Comissões Atléticas estaduais e municipais. Nos Estados Unidos, esses órgãos governamentais são responsáveis por regulamentar e sancionar esportes de combate, como boxe e MMA, e, em muitos casos, o wrestling profissional.

Violação de Normas de Segurança: As Comissões Atléticas exigem regras estritas para garantir a segurança dos competidores. O estilo “ultraviolento” da CZW, com o uso de tubos de luz, arame farpado e vidro, violava todas as normas. O risco de ferimentos graves e até de morte era considerado inaceitável.

Recusa em Sancionar: Por conta dessa violação constante, as comissões se recusavam a sancionar os eventos da CZW. Sem a sanção, a promoção não podia legalmente realizar shows em muitas jurisdições, o que os forçou a procurar locais em estados com regulamentação mais flexível, como Delaware e Pensilvânia.

Além das restrições governamentais, a CZW foi banida de diversos locais (ginásios, salões de eventos) devido a problemas específicos;

O “Danbury Fall” e o Banimento de Connecticut: Em 2004, no evento “Cage of Death”, o lutador New Jack jogou Vic Grimes de uma plataforma de 12 metros de altura. O incidente, conhecido como o “Danbury Fall”, chocou a comunidade do wrestling e levou à proibição da CZW em Connecticut, onde o evento ocorreu.

Danos Materiais: A natureza destrutiva das lutas resultava em danos aos locais. Pisos cheios de sangue, estilhaços de vidro e arame farpado causavam prejuízos materiais e de limpeza, levando os donos dos locais a se recusarem a alugar seus espaços para a CZW no futuro.

A CZW foi forçada a se tornar uma “promoção outlaw” (fora da lei), realizando eventos em locais de baixo perfil e muitas vezes em segredo, ou em jurisdições que fechavam os olhos para suas atividades.

A CZW ainda existe?

Sim. A CZW nunca foi completamente “proibida” por uma lei que a banisse para sempre, mas sim enfrentou uma série de restrições que tornaram sua operação extremamente difícil. Hoje, ela continua existindo, mas de uma forma mais contida e adaptada. Em seu site oficial é possível acompanhar a empresa: clicando aqui

CZW de volta a Atlantic City
Poster de retorno da CZW – foto: Twitter CZW

A CZW foi vendida para David “Dave” Marquez em 2023, que assumiu a direção da empresa. A nova gestão busca um equilíbrio entre a tradição hardcore da CZW e a necessidade de evoluir, com um foco maior em segurança e sustentabilidade.

Embora a violência ainda faça parte da identidade da CZW, a maioria dos shows agora apresenta uma mistura de wrestling hardcore, técnico e de alto risco, similar a outras grandes promoções independentes. Os eventos “ultraviolentos”, como o famoso “Tournament of Death”, ainda acontecem, mas são mais seletivos.

Distribuição Digital: A principal forma de acesso aos shows da CZW hoje é através de plataformas de streaming, como a IWTV (Independent Wrestling TV). Isso permite que a promoção chegue a um público global sem depender de acordos de TV tradicionais ou de grandes arenas, o que foi crucial para sua sobrevivência.

As promos também acontecem no @combatzone no instagram

Em resumo, a CZW continua a existir porque encontrou maneiras de se adaptar, operando em locais que aceitam o seu estilo e usando a internet para alcançar os fãs. Embora as polêmicas e o espírito “outlaw” ainda sejam parte de sua história, a empresa se moveu para uma fase mais organizada e, em certa medida, mais segura. 

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Sobre Klaus Simões 481 artigos
Jornalista pela FIAM, Técnico em Comunicação Visual pela Etec de São Paulo, especialista em coberturas de eventos, esportivas e musicais, geek e alternativo. Responsável pelo NEXP Podcast.