Naruto é uma série de mangá escrita e ilustrada por Masashi Kishimoto, publicada na revista “Weekly Shonen Jump” de 1999 a 2014, completando 72 volumes. Produzidos pelos estúdios Pierrot e Aniplex, a história ganhou uma adaptação para uma série anime, chegando no Brasil pelo Cartoon Network e o SBT.
No início dos anos 2000 e até hoje, Naruto é um dos animes mais famosos no Brasil, porém, poucas pessoas sabem que a obra está repleta de referências à crença xintoísta e ao folclore japonês.
O Xintoísmo (shinto = caminho dos deuses) é a religião nacional do Japão e constitui-se em crenças e práticas religiosas de tipo animista (O animismo é a cosmovisão em que entidades não humanas possuem uma essência espiritual). Ela não possui um código moral rígido nem livros sagrados, e alguns de seus princípios são descritos nos mais antigos livros de história japonesa, o Kojiki e o Nihon Shoki, e tem como valor fundamental o “michi”, que seria a obediência ao curso da natureza, a integração da vida humana à vida divina, a simplicidade, a naturalidade, a bondade, a felicidade e a pureza no modo de pensar, viver, sentir e agir. Essa religião se baseia no culto a espíritos denominados Kami, sendo entidades relacionadas a locais em particular, como montanhas, rios, florestas, etc. Além de fenômenos naturais, criações humanas e também espíritos de guerreiros e líderes notáveis.
Os principais Kami são: a Amaterasu (deusa do sol), o Tsukuyomi (deus da lua) e Susanoo (deus dos mares e tempestades), que, conforme a lenda, deram origem à família imperial japonesa. Eles se originaram do corpo de Izanagi, marido de Izanami, os deuses responsáveis por criar a ponte que liga o céu e a terra.
Para quem conhece Naruto, esses nomes são mais que familiares. Todos são nomes de jutsus utilizados por alguns portadores do Sharingan, poder ocular pertencente aos membros do clã uchiha. Além das habilidades, a religião também inspirou personagens, como os três Sannins lendários, Jiraya é o protagonista de um conto no folclore japonês, “A história do Jiraiya galante”. Nesta história, ele é um ninja poderoso que usa seu poder para se transformar em um sapo; Tsunade, uma princesa possuidora da magia dos caracóis (futuramente se casa com Jiraya) e Orochimaru, antigo seguidor de Jiraya, foi consumido pela mágica das serpentes, consequentemente atacou Jiraya e Tsunade derrotando-os graças ao seu veneno de cobra.
E por fim, mas não menos importante, as próprias Bijuus (bestas de caudas) foram inspiradas em lendas do folclore japonês. Na mitologia japonesa o Shukaku (besta de uma cauda) era um grande sacerdote, depois transformado em demônio pelo poder de Orochi Yamada (serpente de oito cabeças também presente em Naruto, como um jutsu usado por Orochimaru). A Nekomata (besta de duas caudas) foi criada quando um gato entrou em sua cauda e permaneceu nela durante cem anos, dividindo-se em dois, assim recebendo poderes ligados à morte. O Sanbi (besta de três caudas) era um tubarão criado no oeste das águas japonesas, possuindo um chifre muito poderoso em sua testa. O Yonbi (besta de quatro caudas) era uma criatura, como um réptil, que vivia perto do monte Fuji, mas foi transformado em uma criatura meio-galo, meio-serpente, devido aos gases que emanam do vulcão. O Gobi foi um cão com cinco caudas, o que lhe permitia dominar os cinco elementos. A Rokubi (besta de seis caudas) era uma criatura criada sob a forma de doninha, com garras muito afiadas, e um grito que soava como um trovão. Originalmente, era o deus do trovão, mas foi transformada por Orochimaru. A Shichibi é uma besta de sete linhas, astuta e cautelosa, vivendo sob a terra, de onde não costuma fazer nada, a menos que seja absolutamente necessário. O Hachibi é uma cobra de oito cabeças e oito caudas, tem poder sobre os demônios, e cada cabeça simboliza algo que lhes estão associados. Yamata no Orochi tem a espada Kusanagi, que é a fonte de seus poderes. E por fim, a Kyuubi, considerada a mais poderosa dos animais por possuir poder ilimitado e por nunca ter perdido em batalha.
No anime, as espécies de alguns dos animais foram trocados e outros mantidos. Porém, vale ressaltar que em templos e santuários no Japão, onde se comemora festas tradicionais xintoístas, possuem uma estátua (geralmente de raposas) de um desses animais para trazer proteção.