“Get Back” é uma minissérie dividida em 3 episódios retratando o começo de 1969, onde os Beatles haviam feito um acordo para gravar um álbum, um show ao público e um programa para a televisão. Com o prazo de um mês, acompanhamos o dia a dia da banda e mudanças que alteraram o futuro da banda e de todos ao redor deles.
Acho que quando colocamos na mesa toda a discografia da banda na mesa e compararmos com o documentário, a quantidade de semelhanças entre os dois são mínimas, principalmente pelo documentário retratar uma produção frustrada e de forma lenta, o dia a dia da banda. Até para os fãs dos Beatles (assim como eu) pode ser difícil terminar de assistir isso, não basta apenas ter um olhar fílmico documental, é necessário estar interessado com o andamento de produções e aceitar que é algo chato. São três partes de duas horas e vinte minutos á quase três horas cada, sendo quase obrigatório você assistir de poucos em poucos cada episódio.
Destarte o acúmulo de tempo por episódio, eles são fantásticos. A montagem e edição parecem saber que lidam com um material maçante, o transformam em algo mais dinâmico e acessível para o espectador. Não apenas isso, mas mantendo todos os momentos que chamam nossa atenção, como um improviso de algum dos integrantes, eles discutindo sobre o ritmo de alguma música ou pequenos lampejos de procrastinação, como piadinhas ou matando o tempo mesmo. Tudo evidenciando no final das contas, o término eminente da banda. Não digo que os integrantes não estavam se divertindo fazendo isso, mas claramente se vê que a banda não estava mais em seu ápice.
Vale lembrar que a maioria das músicas que eles executam no estúdio é de seu último álbum “Let it Be”, porém, há algumas faixas que mais tarde estariam no “Abbey Road”, na qual seria o mais querido entre os Beatlemaníacos. De uma forma ou de outra, o documentário releva a importância e significado musical de “Let it Be”, por ambos os álbuns terem várias de suas músicas gravadas nas mesmas sessões e tendo produções semelhantes para não dizer igual. Acho importante destacar também o documentário refutar completamente a teoria de Yoko Ono ser a principal culpada dos Beatles se separarem. É visivelmente claro que o clima da banda já mostrava indícios de separação e individualismo.
A montagem final também é excelente, principalmente por trazer pela primeira vez o “concerto do terraço” (conhecido também por “The Rooftop Concert”) completo com imagem e som. Os ganchos do final dos episódios são bastante provocadores, mas um pouco inúteis já que você não tem mais fôlego pra mais duas horas e meia (ou mais) de episódio.
Já havia detalhado o ritmo lento da série que não estragou tanto minha experiência, porém algumas escolhas criativas por parte da direção me incomodaram um pouco. O documentário é dirigido pelo aclamado Peter Jackson (Trilogia Senhor dos Anéis, O Hobbit, Eles Não Envelhecerão), que revolucionou o cinema por seus efeitos especiais e habilidades com a câmera que exaltam ainda mais nível de detalhes desses efeitos, assim sendo, não duvido que Peter havia sido a melhor escolha para a direção, porém trás consigo algumas de suas ambições que estragam alguns momentos. Em “Eles Não Envelhecerão”, Peter faz uma recuperação de imagens surrealmente lindas, como o próprio nome do documentário já diz, assim tornando mais importante e acessível para o público, a retratação dessas imagens.
Em “Get Back”, acho que ele passa do ponto. A primeira escolha duvidosa é a conversão de 16 mm (tela com borda) para 35 mm (tela sem borda), o que só de bater o olho já estraga a intenção original do filme, que seria retratar não só a banda, mas como eles naquele tempo, faziam músicas que marcariam pessoas de todas as gerações posteriores, meio que quebra a atemporalidade da banda. Outra alteração forte foi remover os grãos do filme.
Em 1969, apesar das câmeras estarem em evolução contínua, a sua qualidade se comparado aos dias de hoje, eram baixíssimas, como por exemplo, os filmes eram compostos por pequenos grãos, que formariam a imagem do filme. Mesmo que não seja algo novo, com certeza é algo que leva o espectador para outra época, deixando a obra mais rústica, porém original. Mas como Peter Jackson trabalhou com uma reconstituição de imagens e efeitos que deixam tudo mais “vistoso”, ele coloca um filtro em que deixa a cara de todos no documentário meio “esborrachada”. A verdade é que você nem percebe isso até você saber disso, você começa a notar alguns frames bizarros e para o resto da experiência, você fica com isso na cabeça.
Foi uma verdadeira aventura acompanhar o cotidiano de uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos, principalmente pela recuperação das imagens do último episódio, que é o meu favorito. Porém, algumas escolhas artísticas do diretor limitam o meu aproveitamento com a série.
O conteúdo é excelente, mas sua execução poderia ter sido melhor.